MERCADO CAMBIAL. Moeda norte-americana está fora do circuito oficial há mais de seis meses. Mas vendas são irregulares há mais tempo, pelo menos desde meados de 2014. Mercado informal mantém-se, entretanto, como alternativa ‘segura’.
O Banco Nacional de Angola (BNA) fechou os primeiros seis meses do ano com uma colocação de 6,8 mil milhões de euros no mercado cambial por via dos leilões, sem ter feito nenhuma sessão em moeda norte-americana, de acordo com o mapa consolidado de venda de divisas actualizado até Junho.
No último mês do semestre, o banco central vendeu 907,6 milhões de euros, uma operação que confirma, uma vez mais, o desaparecimento do dólar no mercado formal de divisas, que, nos últimos tempos, só se vêem em escassas operações do segmento informal.
Durante o ano passado, o banco central colocou, até Maio, 832 milhões de dólares, na mesma altura em que pôs no mercado acima de milhares de milhões de euros, em várias sessões do leilão de divisas. Já neste ano, precisamente até à segunda semana de Junho, os bancos comerciais já tinham absorvido 6,4 mil milhões de euros, montante equivalente a mais de metade do total de divisas de todo o ano passado, sem haver, no entanto, uma única nota de dólar negociada.
Em Maio, o BNA já tinha ‘despachado’ 5.930,38 milhões de euros, para vendas diversas, dentro do programa de prioridades definidas pelo Governo e pelo conselho de administração do banco central.
Apesar de o montante estar acima da metade das margens cedidas durante o ano passado, ainda não reduz as necessidades das empresas, famílias e do próprio Estado, de acordo com vários relatos de bancos e de diferentes operadores económicos chegados ao VALOR e noticiados, consecutivamente, neste jornal.
Vários operadores informais, consultados pelo VE, com destaque para jovens estrangeiros provenientes da África Oriental, também mantêm as queixas sobre a escassez de divisas, mas reafirmam que vão prosseguir o negócio porque, segundo defendem, “estão a ajudar os bancos e o país na luta contra a crise”.
Questionado sobre os riscos que correm pela ilegalidade da operação, um vendedor, que disse poder arranjar até 100 mil dólares, no momento, afirmou já estarem “livres” da “perseguição” da polícia.
“A polícia não é mesmo aquela que nos viu falar contigo?”, minimizou o kinguila, que disse existir um “escritório” no Martires, onde levantam os maços de dólares e euros, ou de qualquer outra moeda para o câmbio de rua. A explicação oficial da escassez na venda de moeda estrangeira é a crise do preço do petróleo, mas não ficam de parte os problemas com a cessação do relacionamento entre a banca nacional e os correspondentes bancários, para o caso do dólar dos Estados Unidos da América.
ATÉ 100 MIL USD NA RUA
Para quem tem kwanzas, o recurso às dificuldades no acesso à moeda estrangeira tem sido o mercado informal, precisamente as zonas do Mártires, o mercado do HojiYaHenda e do Kikolo, em Luanda, onde “é possível apanhar até 100 mil dólares”, segundo um vendedor de moedas ao VALOR.
Na zona do Martires, à saída do Aeroporto Internacional ‘4 de Fevereiro’, vários operadores do mercado informal confirmaram ao jornal a colocação de dólares no ‘mercado negro’ por funcionários bancários e por cidadãos nacionais e estrangeiros que escalam Luanda, com origem em vários pontos do mundo.
Alías, na altura da ronda do VALOR pelos pontos mais afamados nessa prática, um cliente de Moussa Djakité, outro operador informal, acabava de ligar a avisar que tinha dólares e euros para despachar. Esse cliente, que não deu para apurar se era de um banco ou proveniente de algum país, exigia a Djakité 40 mil e 38.500 kwanzas para cada nota de 100 euros e dólares a vender, respectivamente.
Posição que foi rapidamente declinada por Djakité pela baixa que se registou no preço da nota de 100 dólares no mercado informal, entre 18 e 20 de Julho. “Não te posso dar a esse preço, porque a nota baixou. Hoje, estamos a fazer, para nota de 100 dólares, 37.700, e para o euro, 39 mil”, justificou Moussa Djakité, que, além de dólar e euros, pode trocar reais, rands e moedas de países “onde o angolano mais gosta de ir”.
O quadro é o mesmo no Kikolo e Hoji ya Henda, onde, segundo apurou o VALOR, os únicos dólares que circulam são fornecidos por cidadãos estrangeiros ou nacionais com rendimentos no estrangeiro. Já o euro, a única moeda vendida pelo BNA nos leilões, entra de vários canais, desde funcionários da banca a profissionais que escalam Luanda com origem na Europa.
Quem confirma a operação é Rita Mayembe, vendedora de produtos com origem no Brasil. Segundo esta comerciante, “mais vale ir à rua comprar dólar/euro do que esperar resposta do banco, que quase sempre é ‘não há divisas’”.
“Se pararmos, o negócio morre”, salientou, em declarações ao VALOR, quando também questionou “quando é que isso, afinal, vai acabar”, aludindo ao fim das restrições no acesso às divisas.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...