ANGOLA GROWING
Emídio Fernando

Emídio Fernando

MOBILIÁRIO. Até na hora da morte, Kamprad inovou na gestão. Não deixou a herança em testamento, preferiu repartir a fortuna. Os filhos ficam com a parte menor e sem o controlo do grupo. A maior fatia vai para fundações e ainda sobrou dinheiro para os funcionários.

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O criador dos móveis IKEA, Ingvar Kamprad, morreu, na semana passada, aos 91 anos, mas, até ao final da vida, quis ser original, como foi toda a gestão que o levou a integrar a restrita lista dos homens mais ricos do mundo.

O milionário sueco deixou, como herança, uma fortuna avaliada em 65,5 mil milhões de euros, mas retirou a gestão do controlo directo da família. Os três filhos ficam com uma parte que será gerida pela filha mais velha que terá a missão de manter a estrutura, avaliada em oito milhões de euros. A Ikano Group faz parte do ‘portfólio’ de Kamprad e tem interesses em negócios financeiros, imobiliários, comércio a retalho e ainda em propriedades que pertencem à família.

Uma das partes de ‘leão’ da fortuna foi destinada à Stichting Ingka, uma fundação criada pelo milionário sueco e que detém a maior parte das lojas do grupo IKEA, que se encontra em 37 países, somando, no total, 280 lojas. A fundação foi registada na Holanda e tem como principal objectivo, além de gerir a parte dos móveis, fazer doações aos mais desfavorecidos e apoiar projectos de inovação. Os estatutos da organização, criada em meados da década de 1980, afasta a família do criador do IKEA da gestão directa.

Cada funcionário das lojas IKEA vai receber cerca de cinco mil euros. Finalmente, a marca, o conceito do universo IKEA e os logótipos ficam nas mãos de uma outra fundação, a Interogo, com sede em Vaduz, no Liechtenstein, um dos ‘paraísos fiscais’ europeus. Aliás, Kamprad nunca se livrou das acusações de utilizar esquemas para fugir aos impostos, em cada país onde montou estruturas, especialmente na Europa. Ele próprio mudou-se para um cantão suíço, onde o pagamento de impostos é mais suave.

Pelos estatutos, também nesta fundação, os filhos de Kamprad têm direito a pertencer aos conselhos de administração e de supervisão, mas “devem ser sempre em minoria”, esclareceu, numa nota de imprensa, a própria organização dois dias depois da morte do milionário.

Apesar de ser uma fundação, os estatutos permitem que não se limite a ser apenas filantrópica. A organização pode reinvestir os lucros tanto nas empresas do grupo como na compra de outras entidades. Nenhum membro da família Kamprad possui acções e a configuração legal impede que uma única pessoa ou entidade possa assumir o controlo maioritário.

De acordo com uma análise elaborada pela Bloomberg, até na herança “fica claro como Ingvar Kamprad não se mostrava interessado em dinheiro”. A estrutura foi projectada para que IKEA “dure mais tempo”, escreve a Bloomberg.

Ingvar Kamprad ficou sobejamente conhecido pela excentricidade como geria a fortuna. Ao contrário do que seria de supor, não gastava, mas poupava ao máximo e detestava gastar um cêntimo nalgum produto que ele considerava ser supérfluo.

Só comprava roupa usada, em feiras e lojas especializadas, e até quando as forças o permitiram, conduziu um automóvel com mais de 25 anos. Num documentário, transmitido por um canal holandês e que serviu para assinalar os seus 90 anos, Ingvar Kamprad confessava “nunca” ter tido “uma peça de roupa que “não tenha sido comprada em segunda mão”. “Isso só significa que quero tentar dar um bom exemplo”, revelava.

O exemplo chegava a ser extremado. Preferia viajar de autocarro, mas quando era obrigado a andar de avião, optava pela classe turística. Aproveitava as viagens de negócios a países em vias de desenvolvimento para ir ao barbeiro, porque ficava mais barato. Nos supermercados, onde fazia questão de comprar produtos para casa, percorria as prateleiras à procura dos preços mais baixos como, por exemplo, iogurtes quase fora do prazo de validade.

A ideia que o levou a criar a IKEA, que se transformou numa rede de fabrico de móveis à escala mundial, foi uma cópia do seu pensamento. A primeira loja surgiu em 1943, em plena Guerra Mundial, com as inovações que ainda hoje distinguem a marca: são os próprios clientes que montam as peças, os móveis são pequenos, fáceis de transportar e pouco duráveis.

O conceito transformou-se num sucesso, que se viria a reflectir em 1958, quando foi aberta a primeira loja gigante na Suécia. O sucesso agitou a concorrência que acusou a empresa de pagar salários baixos e de usar produtos ‘de plástico’. As lojas existentes na altura chegaram a ser ameaçadas: ou boicotavam a IKEA ou seriam simplesmente boicotadas, ficando sem produtos.

O catálogo da IKEA é composto por mais de 12 mil produtos e tem uma tiragem de cerca de 175 milhões de cópias anuais, com distribuição gratuita, através dos correios ou dentro das lojas. A tiragem é, por exemplo, superior ao conjunto das bíblias.

Ingvar Feodor Kamprad nasceu a 30 de Março de 1926, foi casado uma única vez, tem três filhos e, aos 19 anos, pertenceu a uma organização juvenil fascista, em que dava dinheiro e tinha a missão de recrutar membros.

COOPERAÇÃO. Por causa do Sahara Ocidental, um parecer do tribunal europeu considera ilegal o entendimento com Marrocos para a exploração de recursos piscatórios. Espanha tem mais de 70 arrastões diários em águas marroquinas.

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Marrocos e União Europeia (UE) ultimaram, no final do ano passado, a renovação do acordo de pescas, que enfureceu os defensores da autonomia do Sahara Ocidental que, de imediato, recorreram aos tribunais europeus. A semana passada, um parecer do Tribunal de Justiça da União Europeia, assinado pelo juiz Melchior Wathelet, propõe a invalidação do acordo.

Apesar do parecer ter um carácter meramente consultivo, provocou um ‘terramoto’ político, em que estão envolvidos Marrocos, Espanha e a UE. Embora a diplomacia marroquina tenha evitado pronunciar-se formalmente, sobre a opinião “consultiva”, várias fontes marroquinas, citadas por jornais franceses e pela revista Jeune Afrique, acusam os advogados de Bruxelas de terem uma “posição radical” e que “não levaram em conta a evolução da questão do Sahara Ocidental na cena internacional”.

Em Espanha, o principal país europeu beneficiário do acordo de pescas, o parecer foi considerado suficientemente preocupante. O governo reuniu-se de emergência na sexta-feira, 12 de Janeiro, convocando as três regiões autónomas envolvidas no acordo com Marrocos (Andaluzia, Galicia e Ilhas Canárias).

Por dia, mais de 70 arrastões espanhóis pescam em águas marroquinas e o executivo espanhol pretende arranjar uma alternativa, caso a UE acate a opinião do Tribunal de Justiça.

A própria UE tratou de emitir uma mensagem política. O porta-voz lembrou que Marrocos “é um parceiro essencial na nossa política de vizinhança do sul, um parceiro com o qual construímos ao longo dos anos uma parceria rica e multidimensional. Pretendemos não só preservar esse relacionamento privilegiado, mas também fortalecê-lo”. No entanto, os responsáveis abstiveram-se de fazer qualquer comentário.

Além de poder afectar as relações políticas e económicas entre Marrocos e a UE, o parecer representa uma grande vitória política para os defensores da causa saharaui. A queixa foi apresentada pela Comarca do Sahara Ocidental (WSC) que defende a autodeterminação do povo saharaui e a criação da República Democrática Árabe Saharaui (RASD) que, por enquanto, não é reconhecida pela União Europeia.

Polémica igual

Esta controvérsia repete o mesmo cenário do acordo agrícola, assinado em 2016. No centro, esteve a mesma polémica: a falta de garantias ao povo saharaui que pudessem beneficiar da exploração de seus recursos.

Nessa altura, a UE acatou a decisão do Tribunal de Justiça, que decretou o acordo “ilegal” o que enfureceu Rabat. Marrocos chegou a a ameaçar congelar a cooperação com a UE. Seguiram-se reuniões de crise, em que a UE se comprometer a tomar as medidas necessárias para impedir a rescisão do acordo agrícola.

O entendimento sobre as pescas já foi assinado há quatro anos e devia terminar a 14 de Julho deste ano. As negociações para a sua renovação começaram no final do ano passado e estão agora travadas pelo parecer jurídico.

MÉDIO ORIENTE. Donald Trump ordenou um ataque de surpresa à Síria e agitou ?o mundo. Rússia, China e Irão manifestaram-se contra. O mundo ocidental ?apoia. Os preços do petróleo e do ouro dispararam.

INVESTIMENTOS. A África Ocidental ‘arrisca-se’ a ser um dos principais pólos de atracção na criação de novas empresas, especialmente no ramo tecnológico. Em 2015, assistiu a um ‘boom’ de projectos, na maior parte dos casos, liderados por jovens. A tecnologia e a educação são as áreas que recebem mais investimentos. As mulheres também têm um papel mais activo.

BREXIT. A saída do Reino Unido da União Europeia está definitivamente executada. O governo britânico quer apressar a saída do mercado único, propondo acordos por sectores, mas a Europa avisa que não vai ser fácil, e que espera um pagamento de entre 35 e 60 mil milhões de euros pelo divórcio.