Um grupo privado que investiu 100 milhões de dólares numa fábrica de moagem de trigo na área do porto de Luanda prevê realizar um segundo investimento do género no porto do Lobito, tendo já luz verde do Governo. A primeira unidade da Grandes Moagens de Angola (GMA) foi lançada em 2015 e começou a laborar no final de Maio, numa área de 35.000 metros quadrados concessionada pelo porto de Luanda, permitindo, segundo os promotores, cortar 60% da importação de farinha de trigo, de mais de 500.000 toneladas anuais. Um investimento que, de acordo com um decreto presidencial de 16 de Agosto, deverá repetir-se no porto do Lobito, no centro do país. No documento, assinado pelo chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, refere-se que a GMA pretende instalar uma fábrica de moagem de trigo para a produção de farinha, exploração de silos e infraestruturas de apoio e a descarga de navios com trigo a granel no porto do Lobito. "Vai contribuir para o aumento das operações portuárias, promovendo e potenciando desta forma o investimento efectuado neste porto", justifica o mesmo decreto, que autoriza a empresa pública que gere o porto do Lobito a entregar à GMA, por um período de 30 anos, renováveis, a concessão de uma área de 30.000 metros quadrados sob sua jurisdição. O decreto presidencial explica que "a concessão dominial é um instrumento legal e adequado para atrair a iniciativa privada para a exploração de actividades de interesse público em áreas de jurisdição portuária e ao mesmo tempo mantê-las sob controlo do poder público, dada a sua importância para o desenvolvimento do país". A primeira unidade da GMA, no porto de Luanda, que envolveu a portuguesa Afaplan na gestão do projecto de construção, representa um investimento privado superior a 100 milhões de dólares, conforme contrato com o Estado prevendo processar diariamente quase 1.200 toneladas de trigo. O objectivo dos promotores passa por implantar em Luanda uma moageira capaz de produzir 930 toneladas diárias de trigo para consumo humano e 260 toneladas de farelo para ração animal, para reduzir as importações. Trata-se da primeira fábrica do género em Angola e terá capacidade para processar o trigo que chegará por via marítima desde países como França, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Cazaquistão e Austrália. Dada a falta de produção nacional, a aquisição do trigo ainda será feita no exterior. Números oficiais indicam que, só em 2015, Angola gastou 320 milhões de dólares para importar 510 mil toneladas de farinha trigo, número que poderá ser cortado em 60% com o início da laboração da fábrica, sustentam os investidores, angolanos e estrangeiros. O projecto de investimento aprovado pelo Governo previa a criação, em Luanda, de 173 postos de trabalho, ocupando uma antiga unidade industrial no porto da capital e um terminal de carga, com direitos de concessão por 20 anos.
Valor Económico
Independentistas reivindicam ataques às FAA
Os independentistas da Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas Cabindenses (FLEC-FAC) reivindicaram hoje (28) a autoria de ataques às Forças Armadas Angolanas (FAA) em Cabinda, que desde 23 de Agosto já terão provocado a morte a cinco militares de Angola. A informação consta de um "comunicado de guerra" da FLEC-FAC, reclamando que "ataca os ocupantes angolanos no território de Cabinda" e que a região de Massabi "está debaixo de fogo" desde 23 de Agosto, precisamente dia das eleições gerais. Num primeiro ataque, segundo as FAC, foi visada uma posição do exército angolano em Manenga, na região de Massabi, tendo resultado na morte de três militares das FAA, nos combates, além de sete feridos. Já na madrugada de domingo, um soldado das FAC e dois das FAA "foram mortos em violentos enfrentamentos" entre as duas forças, também próximo de Massabi, na povoação de Bitcheque. Desde 2016, com o recrudescimento da actividade guerrilheira, as FAC já reivindicaram ataques que provocaram a morte, naquele território, a dezenas de militares das FAA, informação cuja veracidade é desmentida pelas autoridades angolanas, que garantem que a situação no enclave é estável. "As FAC, braço armado da FLEC, prometem multiplicar os ataques contra os invasores angolanos em toda a extensão do território de Cabinda. Apelamos particularmente aos elementos das FAA, originários de Cabinda, para que não se enganem no inimigo e virem as armas contra os seus agressores angolanos", lê-se no comunicado de guerra emitido hoje. Os independentistas da FLEC-FAC apelaram a 7 de Agosto à "paralisação total" no enclave de Cabinda nas eleições gerais de 23 de Agosto, afirmando que "cada Cabinda que colocar um voto" assume "que é angolano". O apelo consta de um comunicado assinado pelo seu porta-voz, Jean Claude Nzita, no qual a direcção político-militar FLEC-FAC afirmava que as eleições eram do "país ocupante". "Votar em Cabinda nas eleições é abdicar da identidade Cabinda, aceitar a inaceitável integração belicista de Cabinda, é conspurcar a memória de todos os nossos antepassados e mártires que combateram o colonialismo português e o neocolonialismo angolano", referia o comunicado. A FLEC-FAC recorda que a 1 de Fevereiro de 1885 foi assinado o Tratado de Simulambuco, que tornou aquele enclave num "protetorado português", o que está na base da luta pela independência do território. O enclave de Cabinda, no 'onshore' e 'offshore', garante uma parte substancial da produção total de petróleo por Angola, actualmente superior a 1,6 milhões de barris por dia.
MPLA à beira da maioria qualificada
O MPLA venceu as eleições de 23 de Agosto com 64,57% dos votos, depois de escrutinados 5,9 milhões de eleitores (cerca de 63,74%). A meio desta tarde de 24 de Agosto, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), através da sua porta-voz, Júlia Ferreira, anunciou os primeiros resultados provisórios, que colocam a UNITA em segundo lugar com 24,4% dos votos e a CASA-CE em terceiro, com 8,56%. Com 1,37% segue o PRS, ladeado pela FNLA, com 0,95% e o partido APN com 0,52. Os resultados divulgados pela CNE confirmam a maioria qualificada, declarada horas antes pelo porta-voz do MPLA, Ju Martins que assegurava o candidato João Lourenço como o próximo Presidente da República.
Decorrerem contagens dos votos
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) informou que está a decorrer a contagem nas mesas de voto das eleições gerais de quarta-feira (23), processo que permitirá a elaboração das actas de operações eleitorais e síntese do processo de votação. Em conferência de imprensa, a porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, avançou que a contagem dos votos é feita nas mesas de voto e posteriormente elaboradas as actas, que são igualmente entregues aos delegados de lista das forças políticas concorrentes presentes nas mesas de voto. Segundo Júlia Ferreira, as actas são entregues às comissões municipais eleitorais e posteriormente remetidas às comissões provinciais eleitorais, para efeitos de apuramento provincial. Relativamente à acta síntese da assembleia de voto, a responsável deu a indicação de que "tão logo seja enviada para os centros de escrutínio provinciais e para o centro de escrutínio nacional, a CNE estará em condições de passar a divulgar os resultados provisórios, que são feitos com base na acta síntese das assembleias de voto". Júlia Ferreira disse que a CNE vai reunir o seu plenário, para fazer um balanço daquilo que foi o acto eleitoral realizado quarta-feira em Angola. Num balanço sobre o acto eleitoral em si, a porta-voz do órgão eleitoral afirmou que "o acto eleitoral correu sob feição", destacando o "papel cívico, ordeiro, de respeito pela legalidade, pelas instituições angolanas", assumidos pelos eleitores angolanos. "E parece-nos, sem qualquer dúvida inquestionável, que estamos em condições de dizer que o correu sob feição", atestou. A CNE apontou anteriormente para as próximas horas a divulgação dos resultados provisórios. "Em termos gerais, os angolanos estão de parabéns, o país está de parabéns, ganhou a democracia, ganhou o pluralismo multipartidário, os angolanos e vamos agora dar sequência aos nossos trabalhos, fazendo uma retrospectiva geral daquilo que foi o dia de ontem, (23) de Agosto", acrescentou.
Observadores fazem avaliação positiva da votação
Os observadores internacionais realçaram o grau de civismo demonstrado pelos eleitores angolanos nas assembleias de voto, em Luanda, nas eleições gerais desta quarta-feira. Esta avaliação apresentada à imprensa pela chefe da missão de observação da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SDAC), a sul-africana Miriam Resohoketsoe Keneiloe Saohatse, duas horas depois do encerramento das assembleias de voto. Os membros entrevistados foram unânimes em reconhecer a forma ordeira como os votantes se dirigiram às urnas. Atribuíram o êxito à organização da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), a julgar pela lisura do processo e o engajamento dos presidentes das assembleias de voto e dos delegados de lista. “Podemos apreender várias lições durante a observação dessas eleições”, disse a responsável. Idêntica opinião foi expressa por Rui Semedo, do partido PAICV, de Cabo Verde, Aurélio Martins, do MLSPT (S. Tomé e Príncipe), Fernando Luís Vales, do PSD, António Filipe, do PCP e Luís Pedro Mota, do CDS-PP (todos de Portugal). Enalteceram igualmente o processo, o representante da Swapo (Namíbia), Nangola Mbumba e da ZANU-PF (Zimbabwe), Ignatius Chombo.
Jornalista do Valor Económico vence Prémio Catoca