Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues

ESTATÍSTICAS. Balanço da Emis até Abril contabiliza em 1,5 mil milhões de kwanzas o volume total de dinheiro dispensado através da rede de multicaixas espalhado pelo território nacional. Valor saiu das 3.080 máquinas disponíveis em todo o país, num total de 102,6 milhões de operações. Luanda concentra mais da metade dos ATM disponíveis.

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As máquinas de pagamentos automáticas (ATM na sigla em inglês) dispensaram, de Janeiro a Abril último, 1,5 mil milhões de kwanzas, processados através de um total de 102,6 milhões de operações financeiras e não financeiras, de acordo com o mais recente balanço da Empresa Interbancária de Serviços (Emis) a que o VALOR teve acesso.

A estatística não aponta qual das regiões do país mais contribuiu para o movimento, mas estima-se que seja Luanda na análise por província, já que detém o maior número de máquinas de pagamentos automáticas, calculadas em mais de 50% das 3080 caixas existentes em todo o país (registou-se uma redução de 18 aparelhos comparativamente a 2018).

Considerando o número de ATM por província, Benguela aparece na segunda posição com 266 multicaixas. Seguem-se, entre outras, as províncias da Huíla, Huambo e Kwanza-Sul, com 182, 138 e 102 multicaixas, respectivamente. A lista íntegra ainda Cabinda, com 88 ATM, Malanje, com 71, Namibe (60), Uige (59), Zaire (56) e Cunene, com 54 (ver gráfico).

O valor do montante processado pelos ATM até Abril representa mais de 37% do total libertado durante todo ano passado, fixado em 4.022.425,0.

Já entre 2016 e 2017, houve um acréscimo de 47% no montante total processado pelos ATM, ao sair de 2.168,8 milhões de kwanzas para 3.188,9 milhões.

PAGAMENTOS. Há dois anos e meio que as estatísticas do subsistema de pagamento do BNA registaram uma única operação nos cartões de débito de marca internacional. Da única vez utilizada, nenhum dinheiro foi movimentado. Apenas os cartões de crédito e pré-pagos tiveram operações regulares, movimentando perto de um bilião de kwanzas.

 

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As estatísticas do subsistema de pagamentos do Banco Nacional de Angola (BNA) registaram, nos últimos dois anos e meio, uma única operação com os cartões de débito das marcas Visa e Mastercad, de acordo com um balanço do banco central que compila o número de operações e dinheiros movimentados de 2012 a Abril último.

Da última vez que os cartões de débitos Visa e Mastercard (as marcas mais utilizadas no país) tiveram operação não movimentaram qualquer valor, sinalizando a cada vez menos utilização por parte dos clientes detentores desses mecanismos de pagamentos.

Segundo o relatório, 2016 foi o último ano em que os cartões tiveram acima de uma única operação, quando as estatísticas do BNA registaram 276,1 milhões de operações para 3,4 mil milhões de kwanzas.

De 2012 a Abril último, as estatísticas de utilização dos cartões de débitos no estrangeiro indicam para mais de 6,3 milhões (6.347.519) em operações com pagamentos de bens e serviços, tendo sido movimentados 90.488 milhões de kwanzas.

O balanço do subsistema de pagamentos do banco central é omisso quanto às razões da fraca utilização desses instrumentos de pagamentos, mas a situação pode estar associada às dificuldades financeiras dos clientes e aos custos com a utilização do serviço. As dificuldades no acesso às moedas estrangeiras também estão na base da fraca utilização dos cartões. Por conta disso, alguns bancos vedaram a emissão de novos cartões.

Desde 2016 a maioria dos bancos restringiu a emissão de novos cartões, com aumento das condições de acesso. No BPC, por exemplo, os clientes eram obrigados a deixar cativa ou a abrir uma conta poupança no valor de 200 mil kwanzas para acederem ao serviço, medida que mais tarde viria a ser contestada pelo banco central.

O banco público chegou a publicar, em janeiro de 2018, um documento a avisar sobre as alterações na utilização dos cartões, que justificara com “condicionantes do mercado cambial”. Na altura, não avançou preços, limitando-se a referir-se a “ajustes”.

Em Fevereiro do mesmo ano, o BFA, o líder dos lucros na banca nacional, seguiu a mesma medida e anunciou alterações nos limites de carregamento do cartão. “Informamos que, a partir do dia 24 de Fevereiro de 2018, os limites de utilização no estrageiro dos cartões VISA (Mwangolé Classic, Mwangolé Gold e Kandandu) serão alterados”, anunciara o banco.

 

Movimento só nos cartões de crédito…

Do balanço do BNA, só se vê movimento e transacções financeiras nos cartões de crédito. O subsistema de pagamentos do banco central registou 16,2 milhões de operações e um total de 464,6 mil milhões de kwanzas, no período de 2012 a Abril do ano corrente.

À semelhança dos cartões de débito, os últimos dois anos e meio foram os que menos movimentos registaram, destaque para Abril deste ano que, em 443,2 mil operações, foram transaccionados apenas 18,6 mil milhões de kwanzas.

…e nos pré-pagos

Também houve registos de operações e transacções nos cartões do tipo pré-pago. No mesmo período, este tipo de cartão teve 31,5 milhões de operações, tendo movimentado um total de 535,04 mil milhões de kwanzas. Somados os movimentos dos cartões de crédito e os pré-pagos das marcas internacionais, o valor transacionado chega perto de um bilião de kwanzas, considerando o período de 2012 a Abril de 2019.

PROJECÇÃO. Sucursal do Standard Bank Group em Luanda volta a contrariar anseios da equipa económica de João Lourenço. Quando o Executivo prevê crescimento de 0,3%, banco antevê uma tesourada para 0,7% negativos. Desempenho tímido da indústria petrolífera e baixa oferta de divisas justificam previsões.

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Um estudo do Standard Bank Angola (SBA) antevê que o crescimento da economia nacional se situe nos 0,7% negativos até ao final de 2019, contrariando os anseios do Governo que desenhou uma riqueza nacional bruta a crescer 0,3% positivos no Orçamento Geral de Estado (OGE) revisto.

A justificar a revisão em baixa do produto interno bruto estão os efeitos negativos da redução do preço do barril do petróleo e a baixa oferta de moeda forte, conforme descreve o estudo do SBA, apresentado por Fáusio Mussá. “Os efeitos negativos da redução do preço do petróleo vão prolongar-se por este ano, a melhoria no mercado cambial, que é a oferta de divisas, vai ter algum progresso, mas ainda não vai estar ao nível de permitir que a economia saia da recessão”, prevê o banco, pela voz do economista chefe e responsável pelos países de expressão portuguesa na análise económica.

Não é a primeira vez que o SBA contraria as projecções do Governo. Em 2018, a instituição bancária, enraizada na África do Sul, tinha projectado um crescimento da riqueza nacional mais moderado. Quando o Governo projectava quase 5%, os economistas do banco cortavam o entusiasmo, antevendo um PIB moderado de 1,2%.

QUEM FICOU PRÓXIMO DA VERDADE?

 

Na revisão do OGE 2019, a equipa económica de João Lourenço justificou o crescimento económico em 0,3% com a taxa negativa de crescimento do sector petrolífero na ordem de 2,8%. A produção petrolífera diária passou de 1.570 mil bbl/dia, inicialmente prevista para cerca 1.434,7 mil bbl/dia.

Dos 68 dólares que estavam desenhados no OGE inicial para 2019, o Executivo cortou 13, para colocar o barril a valer 55, medida também justificada com a “nova dinâmica do preço do petróleo no mercado internacional, assim como pela redução da produção física em Angola”. O Governo não se ficou por aí, tendo reconhecido que o fenómeno criou desequilíbrios nos agregados macroeconómicos.

Apesar disso, o economista-chefe do SBA mostra-se optimista com as reformas levadas a cabo pelo Executivo. Fáusio Mussá aponta o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e demais medidas como indicadores que levaram à correcção dos desequilíbrios. “O FMI publicou (no dia 12/06) a sua primeira avaliação ao abrigo do programa de financiamento de 3,7 mil milhões de dólares que tem para Angola e aprovou um desembolso adicional de 248 milhões. Quando olhamos para essas informações, ficamos positivamente impressionados que as políticas e as medidas que estão a ser implementadas estão a produzir resultados”, observou, acrescentando que ainda assim “o SBA mantém a espectativa de que este ano a economia ainda terá um crescimento negativo”, enfatizou Mussá.

Recuperação em 18 meses

Angola terá de aguardar o desenvolvimento dos próximos seis meses e mais 12 do próximo ano. Pelo menos, é assim que sugere outro estudo do Standard Bank, o African Markets Revealed, documento que apresenta uma expectativa de crescimento de 1,5% positivos para o próximo ano.

As projecções do SBA justificam esse crescimento com “um conjunto de acções, por parte do Governo e do sector privado”. Segundo ainda o economista do SBA, os investimentos no sector petrolífero terão de continuar, com o argumento de que este o ajuda na diversificação e na geração de recursos em moeda estrangeira.

O SBA entende, segundo o economista, ser “impossível diversificar a economia angolana sem fortalecer o sector dos petróleos, que é aquele que gera maior parte de divisas”, sublinhando reconhecer a existência de “de uma forte coordenação de esforços para garantir que essa diversificação da economia (obviamente que é algo que vai levar tempo, vai ocorrer ao longo do tempo) ocorre num momento em que se procura estabilizar a produção do petróleo, o que é importante para Angola”, analisou o economista, moçambicano de nacionalidade.

CORRESPONDÊNCIA. Dois bancos dos EUA e um alemão confirmaram ao BNA interesse em instalarem-se em Angola. Destaque para o Citibank, o 14.º maior grupo financeiro do mundo, que esteve em Luanda e discutiu a possibilidade de regressar. Se a negociação com FED avançar, seguem-se o Deutsche Bank e Bank of America.