ANGOLA GROWING
Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico

 A semana que passou, particularmente para quem se interessa por tecnologias, foi marcada pelo anúncio do jovem dono do Facebook de que o Face vai deixar de o ser para se tornar na marca Meta, o nickname da Metaverse, que será a marca mãe dona do Facebook e de todas as outras empresas do grupo. A palavra Metaverse, de origem grega, significa qualquer coisa como “há sempre mais para construir” e Zuckerberg quer que a Meta seja o ‘re-branding’, a nova face das mais recentes tecnologias que, como as redes sociais fizeram no passado, vão invadir e revolucionar ainda mais o nosso dia-a-dia. A apresentação dos planos da empresa é impressionante, futurista, inclui avatars que projectam a imagem inteira de uma pessoa em 3D num espaço onde não está e que vão mais longe no conceito de aproximar distâncias que as redes e a comunicação online já conseguiram encurtar. Quando me lembro que vivíamos sem telemóveis, essa realidade parece pertencer quase à idade média...

A semana que passou foi de discurso sobre o Estado da Nação e, como era expectável, só um moroso desconversar de alto nível poderia distrair do tal estado do Estado. Sobretudo um desconversar que mascare a facilidade com que num país que vai na sexta recessão – cuja economia é refém de um desemprego galopante, que enfrenta uma seca violenta, muita fome que já não se restringe às regiões afectadas pela seca mas que se espalha por todo o país, um país que tem uma falta crónica de infra-estruturas de saneamento que desincentivam o investimento, que não fornece àgua, ou energia de forma sustentada – só um desconversar de alto nível pode tentar mascarar decisões de alocar vários milhões de dólares a supérfluos como compras de instalações para ministérios, ou apartamentos e Lexus para o sector da justiça que se quer manter manietado. E agora pergunto eu, com tanta apreensão de prédios instalações e afins, ainda é preciso comprar apartamentos e escritórios para servidores públicos? Mas o que raio se passa que o Governo anda tão dissociado da realidade depauperada do país e até do seu próprio discurso de sucesso? Se o combate à corrupção em quatro anos tem registo de sucesso, milhões apreendidos, porque não é visível o benefício para os cofres públicos que ainda é preciso nesta altura comprar instalações para servidores públicos?

Na semana que passou, foi finalmente anunciada, pela Organização Mundial de Saúde, uma vacina contra a causa número um de mortes em Angola, uma boa notícia a que a ‘TV de todos nós’ dedicou imenso tempo para nos distrair da anterior – a abjecta decisão do Tribunal Constitucional de anular o Congresso da Unita dois anos depois. É sempre um exercício curioso para quem se interessa por comunicação analisar as pequenas e grandes manipulações da máquina que tenta controlar a opinião pública... no entanto, actualidade mundial foi ainda marcada pelo anúncio do Prémio Nobel da Paz, que foi para dois jornalistas que, segundo o presidente do Comité Nobel, “são representantes da classe, num mundo em que a liberdade de imprensa – pré-condição para a democracia e para a paz duradoura, enfrenta condições cada vez mais adversas”.