Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico

Seja bem-vindo, querido leitor, a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que foi publicado o índex dos países mais felizes do mundo. Angola nem consta do estudo. A última vez que constou terá sido em 2018 em que aparecia no lugar 142 de 156, Moçambique, por exemplo, aparecia no mesmo ano na posição 123, sendo que no ranking deste ano aparece posicionado em centésimo primeiro, melhor do que a nossa vizinha Namíbia por exemplo que aparece na posição 124. Os cinco países ‘mais infelizes’ do ranking são o Botswana, o Ruanda, o Zimbabué, o Líbano e o Afeganistão e os mais felizes são os nórdicos liderados pela Finlândia pela quinta vez.

Esta semana, talvez para evitar a inevitável guerra na Ucrânia e mantendo figas para que os políticos que não a evitaram já se sintam satisfeitos com os estragos e mortandade e cheguem a algum tipo de acordo que pare a guerra, e, porque enquanto ia começar a pensar na pergunta desta semana recebi mais uma mensagem do MAT a lembrar da actualização do registo eleitoral, pus-me a pensar e a perguntar-me qual será a reacção dos angolanos a essas mensagens e qual seria a motivação de cada um para ir votar.

Esta semana, a actualidade internacional continuou refém da guerra na Ucrânia, uma tragédia como são todas as guerras, que quanto mais se prolonga mais sofrimento causa às pessoas que a sofrem na pele, mais traumas espalha entre as suas crianças sujeitas a bunkers e ao som do perigo e à morte, mas que também quanto mais dura mais expõe aqueles duplo standards que se escondem sob o moralismo colectivo, aqueles dois pesos duas medidas que conseguem desacreditar o mais fervoroso espirito de mobilização.

Esta foi uma semana em que foi impossível escapar à guerra na Ucrânia, às histórias das vidas destruídas, do sofrimento das famílias separadas, das crianças postas em transportes aos prantos para longe dos pais que temem pela sua segurança, dos soldados russos em lágrimas por não quererem lutar contra os irmãos ucranianos, muitos com familiares dos dois lados das fronteiras, dos russos maltratados porque do dia para a noite são, independentemente da sua opinião sobre a guerra ou sobre o governo, o alvo da fúria mundial. Foi impossível escapar ao espectro da terceira guerra mundial às ameaças surdas e mudas do uso de armas químicas com consequências difíceis de prever para a humanidade, à dúvida sobre os dois pesos e duas medidas usadas em diferentes guerras que, apesar de terem os mesmos resultados – devastação e morte –, recebem tratamentos e atenções tão diferenciadas de acordo com interesses velados. Foi impossível escapar ao medo, ao bullying de discursos que se fundamentalizam, a pressões para cedência a manipulações e à desinformação que faz duvidar de tudo quanto se lê e se ouve vindo dos dois lados que esgrimem argumentos como se a guerra pudesse algum dia ser ganha como um jogo de futebol.

A actualidade desta semana foi marcada pelo que o presidente russo Vladimir Putin explicou como “intervenção para a defesa da integridade do território russo dos avanços sistemáticos da NATO”- o mesmo que o ocidente, inspirado pela narrativa dos EUA, classificaram como ‘indiscutível e insana invasão a um país soberano’... Como as narrativas diferem consoante as perspectivas e como é fácil extremar posições que se apressam a expressar apoios a uma ou a outra parte como se de contenda futebolística se pudesse tratar uma guerra que mata e separa famílias (geralmente as mais vulneráveis), e que não pode ser ganha por só se traduzir em perdas para todos.