Geralda Embaló

Geralda Embaló

Directora-geral adjunta do Valor Económico

Numa semana em que a actualidade foi marcada pela aprovação da lei eleitoral que havia sido rejeitada, mas que parece que era só ‘jajão’ e era mesmo para aprovar, continuámos a assistir ao jogo de xadrez que, resta saber, se não é de “nível kilobyte que não vale a pena ser dirigente” como diz o bispo de Cabinda, que não só também marcou a actualidade da semana que passou, mas incendiou as redes sociais com as suas reflexões acerca das “cabeças de pobre a que devemos a nossa desgraça”.

Numa semana em que África se aproxima dos oito milhões de recuperados do covid-19 apesar de um aumento de 3% nos contágios, e enquanto a Europa mergulha em quartas e quintas vagas que colocam o velho continente no epicentro da pandemia com um aumento de infecções de 8%, notícias a marcar a actualidade entre nós foram os anúncios animados das Finanças. O Governo pagou e vai continuar a pagar salários em atraso; o Governo promete um aumento salarial na função pública; o Governo vai implementar um conjunto de medidas de natureza fiscal flexíveis “que visam conceder alívio económico às empresas e às famílias”. A ministra acrescentou ainda que o programa de investimentos públicos vai absorver, no próximo ano, mais quase 350 mil milhões de kwanzas em grandes projectos do sector como hospitais, transportes, estradas, centralidades, energia e água...Tão bonito... tão benevolente, tão esforçado e preocupado com o cidadão e as famílias se tornou ultimamente o Governo. Porque será, querido leitor? Estas promessas, juntando à febre das inaugurações e cortes de fita que já começam a infectar os nossos governantes (na semana que passou correram fotos de uma inauguração de uma estrada de terra batida e esta semana correm outras de uma ponte já com aspecto de ferrugem), cheira a eleições, não cheira?

A semana que passou foi mais uma de celebração da Dipanda e já se vai tornando hábito a actualidade ser marcada por manifestações um pouco por todo o país, sobretudo marcada pela repressão policial a essas manifestações, que leva invariavelmente a detenções arbitrárias, à violência policial e, no ano passado, até à morte. A vida do jovem Inocêncio de Matos foi tirada numa manifestação a que tinha direito consagrado, e tirada por autoridades encarregadas pela segurança do público como ele. E, um ano mais tarde, a impunidade sobre esse crime que mutilou certamente aquela família que poderia ser a de qualquer um de nós, é total, assim como é a impunidade sobre as mortes que aconteceram em Cafunfo e para as quais não se conhecem responsabilizações sérias num desrespeito exibicionista quanto a direitos humanos básicos. 46 anos de Independência e a nossa democracia continua a não ter esses direitos à expressão e à liberdade de manifestação, consagrados na prática fora do papel. Mas 46 anos de Independência traduzidos numa democracia infantil quanto a direitos humanos revelam-se de diferentes formas conexas. Revela-se na falta de qualidade de vida dos cidadãos, na falta de perspectivas socioeconómicas, na falta de resiliência do tecido empresarial nacional que o Governo inadvertidamente parece incentivar com as intrusões constantes no espaço que deveria ser do empreendedorismo privado. Olhando para os indicadores de desenvolvimento socioeconómico, é fácil encontrar áreas em que a infantilidade é manifesta. O acesso à energia e água, o acesso à educação e saúde de qualidade são alguns. A partidarização das instituições como a polícia como os tribunais... São infantilidades que levam a perguntar quantos anos mais serão necessários para que Angola alcance o potencial que anda há décadas a prometer por conta de tanto recurso natural que tem.

 A semana que passou, particularmente para quem se interessa por tecnologias, foi marcada pelo anúncio do jovem dono do Facebook de que o Face vai deixar de o ser para se tornar na marca Meta, o nickname da Metaverse, que será a marca mãe dona do Facebook e de todas as outras empresas do grupo. A palavra Metaverse, de origem grega, significa qualquer coisa como “há sempre mais para construir” e Zuckerberg quer que a Meta seja o ‘re-branding’, a nova face das mais recentes tecnologias que, como as redes sociais fizeram no passado, vão invadir e revolucionar ainda mais o nosso dia-a-dia. A apresentação dos planos da empresa é impressionante, futurista, inclui avatars que projectam a imagem inteira de uma pessoa em 3D num espaço onde não está e que vão mais longe no conceito de aproximar distâncias que as redes e a comunicação online já conseguiram encurtar. Quando me lembro que vivíamos sem telemóveis, essa realidade parece pertencer quase à idade média...