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César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico

A memória não me lembra, e nem mesmo o Google, de a Sonangol, perante a incapacidade de atender às necessidades de combustível, ter feito um comunicado que, além de nada esclarecer, criar mais preocupações. “Um certo condicionamento logístico…”. Não acrescenta nada.

O cidadão já sabia que existia um certo condicionalismo tendo em conta as limitações nos postos de abastecimento. Mas qual e quando estaria resolvido? O desejo era ter respostas a estas questões. Mas não foi o que aconteceu.

Três dias depois da ‘crise’, a Sonangol fez, sim, questão de acusar os automobilistas de serem parte principal do problema por aumentarem a procura como se o aumento tivesse resultado da simples vontade de as pessoas abastecerem mais e mais sem qualquer necessidade.

O mais preocupante é que, contrariamente aos comunicados feitos noutras alturas, a petrolífera evitou assumir um prazo para a resolução do problema. Nem sequer fez recurso ao “brevemente”. Disse, sim, que o mercado levará “alguns dias a voltar à normalidade”, depois da reestruturação a que foi forçada a fazer para atender a uma suposta maior procura de combustível.

Ou seja, em suma, o que a petrolífera disse é que houve um condicionalismo logístico e os automobilistas começaram a procurar mais combustível do que o habitual. Viu-se forçada a reestruturar os processos para atender esta demanda desnecessária e a reestruturação levou alguns dias para estar oleada.

A imprecisão no esclarecimento da Sonangol deu lugar a especulações, uma delas dando conta que a empresa foi orientada, pelo Executivo, a cortar em 50% a importação. Assumo que se tratou de especulação a informação do suposto corte na importação, fazendo fé a uma fonte confiável que tenho no Ministério dos Petróleos.

A petrolífera garante, entretanto, que não há falta de combustível. A ser verdade, a questão que se coloca é: Porquê alterar um processo que funcionava perfeitamente? O comunicado da Sonangol pareceu o caminho possível para esconder um grande problema, pois fica difícil encontrar uma razão para que não se detalhasse o condicionalismo logístico. Oxalá esteja enganado…!

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico

Está concluído o trabalho da comissão criada pelo Presidente da República, João Lourenço, para avaliar as empresas privadas criadas com fundos públicos. A única revelação é que estes projectos prejudicaram em cerca de 4,7 mil milhões de dólares o Estado. João Lourenço considera o relatório “no mínimo chocante e repugnante”, acrescentando estarem as condições criadas para nos próximos dias accionar-se os “mecanismos para o Estado reaver o património e os activos que lhe pertencem”.

Portanto, fica implícito que o Presidente da República considera astronómico o valor. Se for este o caso, é ‘no mínimo chocante e repugnante’, visto ser quase consensual que estes números estão muito abaixo dos valores do Estado que, efectivamente, terão sido usados para a criação de empresas privadas. Só para se ter uma ideia, a Fábrica de Cimento do Kwanza-Sul foi financiada na totalidade pela Sonangol, custou cerca de 731,1 milhões e, pelo menos, até 2017, o valor continuava em dívida.

Depois de se anunciar o valor de 4,7 mil milhões, seguiu-se um ‘movimento’ nas redes sociais a recordar uma investigação da Human Rigths Watch, que denunciava diversos patrimónios de entidades privadas, entre as quais o MPLA, que tinham sido financiadas pela Sonangol. Falava-se em cerca de 32 mil milhões de Euros.

Este movimento é prova do consenso de que é pouco o valor a que chegou a comissão criada pelo Presidente da República. O que se deseja é que esta ‘falha’ por defeito tenha resultado pura e simplesmente da incapacidade de a equipa alcançar os projectos e números verdadeiros. Porém, não se pode descurar a possibilidade de esta ‘falha’ resultar da intenção de se pretender atacar apenas alguns projectos já identificados. E tudo que o País é que o processo seja transparente, tenha como único objectivo beneficiar o Estado e não o de satisfazer as vontades pessoais de um determinado grupo.

A transparência do processo exige lembrar que muitas destas empresas foram financiadas com suporte legal. Aprovado em Julho de 2003, o Decreto 14/03 tinha como objectivo a promoção do empresariado privado nacional. Defendia que as “empresas públicas de média e grande dimensão, e com capacidades financeiras adequadas, podiam, no exercício da sua autonomia gestionária, financeira e patrimonial, receber e negociar propostas de promoção comparticipada ou simplesmente apoiada, de empresas nacionais que se apresentem inseridas nos respectivos sectores de actividades ou negócios”.

Ou seja, muitos destes estarão apenas numa condição de ‘malparado’ e sempre podem negociar modalidades de amortizar.

Aponta lacunas da legislação que define os bens da cesta básica e outros bens prioritários de origem nacional e defende a definição da legislação sobre as análises dos produtos altamente perecíveis, apontando lacunas. O empresário reconhece ainda a necessidade de apetrechamento e manutenção dos laboratórios de qualidade em funcionamento.

 

AVIAÇÃO. Quedas de dois aviões num espaço de cinco meses levantam suspeitas à volta do modelo mais vendido da história do fabricante norte-americano. Fabricante acredita no sucesso à volta das encomendas de mais de cinco mil unidades, segundo declaração do director geral da Boeing 737 Max 8 para a África subsariana ao Valor. TAAG considera ser muito cedo para tomar uma decisão.

 

Sim, Nelson Mandela tinha mais razões para não perdoar do que José Eduardo dos Santos porque, enquanto prisoneiro, terá sofrido abusos e maltratos pessoais, situações susceptíveis de provocar rancor a qualquer ser humano. Enquanto Presidente da República, José Eduardo dos Santos, em princípio, estava protegido. Por ele outros homens teriam de dar o corpo às balas ou ao chicote se necessário fosse. Ainda assim, o caminho do perdão e da reconciliação que escolheu perante a fragilidade da UNITA, depois da morte de Jonas Savimbi, também demonstra a sua capacidade de perdão. Maior ou menor que a de Mandela? Mas suficiente para, no caso de perdão, o barómetro para indicação de referências políticas, merecer reconhecimento por parte de qualquer angolano.

O Presidente da República, João Lourenço, entretanto, preferiu ficar-se por Nelson Mandela por orientar “o seu povo a não perseguir ninguém, antes pelo contrário, a fazer a paz e perdoar aqueles que fizeram mal ao povo sul-africano de uma forma geral”. Justificou-se em entrevista à RTP, em mais uma exclusiva a um órgão internacional contra as duas colectivas aos órgãos nacionais. Duas situações que deixam transparecer a dificuldades em aceitar e reconhecer os de dentro. É necessário olhar-se mais para dentro e não apenas para criticar.

Quem acompanha o mundo do futebol está, nos últimos meses, perante provas de que, muitas vezes, a solução de determinado problema está em casa. Quando já pareciam totalmente mortas, as equipas de futebol do Benfica e do Manchester United foram transfiguradas por treinadores ‘de casa’. Bruno Lage (Benfica) e Solskjaer (Manchester United) precisaram apenas do apoio, conforto e o voto de confiança de quem manda. Exemplo que pode servir para o tratamento que se deve dar aos empresários nacionais. É preciso não matar o já fragilizado empresariado nacional por força da necessidade e vontade de se mostrar ao potencial investidor estrangeiro que existe no país um melhor ambiente de negócios. Existirão entre nós alguns ‘lages’ e ‘solskjaers’.

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico