KWIK
César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico

A Angomédica e a Cimangola podem ser confiscadas pelo E s t a do p or supostas irregularidades nos respectivos processos de privatização. Foram temas de destaque na semana passada. No caso da Angomédica, coube à ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, ‘dessegredar’ a intenção do Governo. Foi curta e objectiva. Considerou “pouco claro” o processo que data de 2005, e o favorecido foi a Fundação Eduardo dos Santos, segundo revelou a governante.

Contrariamente ao caso da Angomédica, o da Cimangola não teve como portador qualquer voz ocial. Tratou-se de um ‘furo’ jornalístico. Não desmentido nem con- rmado. Esclareceu, sim, a própria Cimangola, garantindo que o processo foi transparente e que não usou fundos públicos nem para a compra nem para a modernização da unidade industrial.

O surgimento dos dois assuntos na mesma semana é, certamente, suficiente para os mais ousados nos pensamentos acreditarem que se trata de um ensaio propositado sobre como será o ajuste de contas com as empresas privadas supostamente criadas com fundos públicos. Por ora, a única certeza é que existe uma comissão criada pelo Presidente a avaliar as empresas privadas nestas condições.

Independentemente dos argumentos das partes, para cada um dos casos que se vier a provar terem sido criados com fundos públicos, o estado actual das respectivas unidades deveria ser fundamental na abordagem e tratamento dos dossiês.

Parece ser pouco inteligente confiscar para o Estado uma empresa que se tornou robusta por força da estratégia do privado, quando existe consenso sobre a necessidade de o Estado deixar o sector empresarial por comprovada incapacidade. Mais quando o Estado ainda luta com processo de privatização de outras dezenas de empresas e nada garante que serão processos exemplares em termos de transparência.

Parece pouco inteligente tratar com apenas um “dá cá esta empresa” tanto quem se limitou a transformar em armazém uma unidade fabril funcional, como quem pegou numa unidade em crise e a transformou numa referência. Ainda que o processo tenha sido repleto de irregularidades? Sim, considerando que que a privatização por negociação directa continua a constar entre os possíveis modelos.

 

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico

Quando ainda faltam pouco mais de três anos para a conclusão do primeiro mandado de João Lourenço, e de mais um do MPLA, na liderança do país coloco-me entre os pessimistas em relação à promessa de criação de 500 mil empregos até 2022. Entre aqueles que duvidam no cumprimento da referida promessa e há argumentos para esta posição.

O cumprimento impunha a criação média anual de 100 mil empregos e a realidade mostra que os primeiros 15 meses foram nulos. Ou seja, o desafio impõe, agora, a criação média anual de mais de cerca de 167 mil empregos nos próximos três anos. Nada do outro mundo. Os números, por si só, são alcançáveis. Angola não seria o primeiro a conseguir. Em 2017, por exemplo, em Portugal terão sido criados 172,3 mil empregos, enquanto nos Estados Unidos estimou-se mais de mais de dois milhões.

No entanto, a realidade diz-nos que seria necessária uma reviravolta considerável, tendo em conta a realidade económica actual, caracterizada pela incapacidade da banca financiar o empresariado e deste desenvolver novos projectos. Pela maior necessidade das empresas em desempregarem do que criarem novas oportunidades devido o necessário exercício de sobrevivência imposto pela falta divisas e, sobretudo pela desvalorização da moeda. Caracterizado pela falência de empresas.

E se juntarmos a estes pressupostos as decisões administrativas como a do BNA que decretou o encerramento de três bancos e, sequencialmente, criaram perto de 1.000 desempregos, criar apenas 500 mil empregos até 2022 seria uma fraude. O MPLA deve focar-se agora na criação de, pelo menos, 700 mil empregos.

PETRÓLEO. Além do aumento do preço do petróleo, contas terão sido beneficiadas pelo efeito do câmbio, considerando que o petróleo tem o dólar como moeda de negociação e o relatório é apresentado em moeda nacional. Exportações do bloco mais produtivo reduzem 10%.

 

06 Feb. 2019

Brilho esperançoso

realização, na semana passada, do primeiro leilão de diamantes brutos em Angola, em que participaram 31 empresas para a compra de sete pedras de grande quilate. é daquelas práticas que, salvo se o processo for viciado, dificilmente não reúne consenso pela positiva.

Tratou-se do primeiro grande acto depois da aprovação, em Julho de 2018, da alteração da política de comercialização do diamante, acabando com o modelo da venda aos clientes preferenciais, cujo número de críticos era largamente superior ao dos que apoiavam. Tanto pelas desvantagens económicas para os cofres do Estado e das empresas produtoras como pela falta de transparência no critério de escolha dos clientes preferenciais. Portanto, o fim do referido modelo era, efectivamente, um dos males a ser corrigido.

Seis empresas foram vencedoras, neste leilão histórico, que proporcionou receitas de 16,7 milhões de dólares. Segundo Stephen Wetherall, presidente da comissão executiva da Lucapa Diamonds, accionista de referência da Sociedade Mineira do Lulo, “os preços oferecidos pelo grande número de ‘players’ internacionais que participaram neste histórico leilão em Angola reflectem o verdadeiro valor dos diamantes”. Ou seja, foi positivo.

Portanto, o acto motiva que se olhe com esperança para o futuro do negócio dos diamantes em Angola e, sequencialmente, o seu contributo no PIB. Motiva acreditar que Angola pode, sim, vir a transformar-se num mercado internacional de diamantes que tanto África precisa para melhor ganhar com o negócio.

O Banco de Poupança e Crédito reabriu, na semana passada, o crédito de salário antecipado. Um serviço que nunca deveria ter sido interrompido pelo potencial de negócio que representa. Mas foi forçado a interromper por ter priorizado o crédito ao investimento, quando os ‘assalariados’ representavam e representam parte considerável dos seus clientes por culpa da domiciliação dos salários.

Durante anos, o BPC tinha o monopólio da guarda dos salários públicos, perdeu em 2011 por incapacidade de os administrar. Eram constantes as falhas, que levaram muitos clientes a procurarem por outros opções tão logo passaram a ser possíveis. Talvez o banco ganhasse mais se, mesmo depois da abertura do mercado, conseguisse manter os clientes, oferecendo serviços de qualidade. Acrescentando ao crédito salário antecipado, os créditos para micro e pequenos negócios, mas sempre priorizando quem tivesse salários domiciliados.

Se assim fosse, o banco dificilmente atingiria o actual nível de malparado, mais de 77% do crédito. Certamente seria bem menor, considerando duas máximas bem conhecidas no meio bancário e financeiro: o “pobre é bom pagador” e a outra que diz, mais palavras menos acentos, “arranja problemas com o banco quem beneficia de um microcrédito e o banco arranja problemas com quem beneficia de um ‘macrocrédito’”, em alusão à maior dificuldade das instituições negociarem e cobrarem os malparados a devedores de grandes valores.

Caso o banco se venha a salvar, mais uma vez, esta deveria ser a direcção, sem, no entanto, descurar os créditos ao investimento, mas só e apenas quando se tratasse de uma grande oportunidade. Só e apenas quando a avaliação concluísse que se tratasse de um negócio infalível, sem grandes riscos. Deixaria estes com os bancos privados.

Se assim for, certamente, o BPC teria muitos dos ‘assalariados’ a regressar pela incapacidade ou pela falta de interesse dos bancos privados disponibilizarem este produto. Não são poucos os trabalhadores que se interrogam sobre as vantagens de terem os salários nesse ou naquele banco que não consegue ‘oferecer’ o adiantamento de um salário. Uma realidade que permite a que os credores informais vão dominando o mercado do microcrédito, que serve também para mostrar que são precisas instituições de microfinanças.