César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico

Angola Investe. Empresário diz que o processo não corre de forma tão pacífica e transparente como os bancos apresentam.

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O empresário agrícola Yudo Borges contesta a versão manifestada, inúmeras vezes e por diversas instituições bancárias, segundo a qual os bancos estão disponíveis a financiar os projectos no âmbito do ‘Angola Investe’, desde que cumpram os procedimentos e se apresentem viáveis.

Yudo e Celso Borges são co-herdeiros do então denominado ‘Rei do Morango’ e maior produtor de carne do país, Fernando Borges e, nesta condição, são proprietários das fazendas Chimbolela (10,5 hectares) e Jamba (450 hectares cultiváveis) na Huíla. Estão, neste momento, com três diferentes pedidos de créditos num total de 13 milhões de dólares.

“Infelizmente, estamos nesta batalha há muito tempo, são-nos impostos entraves atrás de entraves que achamos desnecessários. A nossa habilitação de herdeiros saiu em 2012 e desde aí que estamos à procura de financiamento, andamos de banco em banco, mas simplesmente não conseguimos. Temos tudo, contabilidade certa, não temos dívidas nenhumas, mas não há nenhum banco que nos estenda às mãos”, declarou Yudo Borges.

O empresário considera “incompreensível” o não financiamento do projecto de produção de carne, sobretudo pelo facto de os vários técnicos bancários que visitaram a fazenda considerarem existir “óptimas condições” para o financiamento. “Até certo ponto, chateia. Vemos pessoas que nem têm vedação nas fazendas, mas conseguem financiamentos de valores consideráveis. Se ler o nosso plano financeiro, vai ver que apenas precisamos do financiamento para a aquisição do miolo, ou seja, do gado, medicamentos e o fundo de maneio. Não solicitamos para carro, tractores ou casas. A nossa fazenda tem mais de 60 anos, tem pasto pronto, vedação e está electrificada. Até é revoltante”, desabafou.

Muito recentemente, entretanto, uma instituição bancária manifestou o interesse em financiar o projecto que está avaliado em cerca de cinco milhões de dólares e que visa a aquisição de 3.500 cabeças de gado para abate. No entanto, o histórico de insucessos aconselha cautelas, segundo o empresário, que também se manifesta “insatisfeito” pelo facto de a referida instituição bancária pretender financiar apenas 50% do valor solicitado. “Este valor daria para 1.500 cabeças, o que criaria dificuldades porque o empréstimo será de sete anos e, na produção de gado, o número é que conta”, explica Borges, argumentando com contas. “Vamos fazer umas contas rápidas. Com mil cabeças e uma taxa de natalidade anual de 90%, estaríamos a tirar quase 800 bizerros. Destes, supostamente, 400 são fêmeas e 400 machos. Dois anos depois, os machos estão prontos para o abate, mas com 3.500 cabeças teria mais 3,5 vezes e mais rapidamente conseguiria pagar o empréstimo.”

Um segundo produto também voltou a conquistar, novamente, ‘simpatia’ de um banco mas, tal como no caso da carne, o empresário prefere ver para crer. Trata-se de um projecto que está avaliado em cerca de três milhões de dólares e visa a produção de semente de batata.

“Queremos fazer dois pivots de 60 hectares e, pensado por baixo, estamos a falar de 1.800 toneladas duas vezes por ano. A ideia é processar esta semente e vender. O nosso projecto está todo feito, vamos ter uma parceria holandesa que nos vai fornecer a primeira semente e depois teremos de mudar de três em três ou de quatro em quatro anos, mas em quantidades inferiores”, explicou.

Um terceiro projecto, também avaliado em cinco milhões de dólares, visa o ‘upgrade’ da fábrica de iogurte com o objectivo de distribuir o produto também no mercado de Luanda. A fábrica está localizada na fazenda da Jamba e produz cerca de 15 mil litros/semana.

Enquanto aguardam pelo crédito, vão investindo recursos próprios para a manutenção das infra-estruturas. O empresário estima um investimento anual de cerca de 20 milhões de Kwanzas para a manutenção da fazenda da Chimbolela que tem cerca de 10,5 hectares.

Parceria relança produção de morango

Yudo Borges informou que uma parceria com o Hipermercado Candando permitiu à Fazenda Jamba relançar, em 2016, a produção de morango, depois de uma interrupção de dois anos devido à impossibilidade de importação de plantas. Em 2016, o empresário adquiriu 60 mil plantas, número muito aquém das quantidades anteriores que atingiam as 400 mil. “Houve uma grande procura da produção, pelo que as vendas não demoraram. Este ano já conseguimos pôr mais 300 mil plantas, em Maio, que estão a produzir. Conseguimos graças a uma boa parceria com o Candando, eles estão a ajudar-nos de diferentes maneiras, inclusive no acesso às divisas”, assinalou Borges, adiantando que o objectivo é chegar aos 40 hectares que são 1,2 milhão de plantas. “Vamos lutar para ver se conseguimos a alocação destas divisas. Estaríamos a falar 150 toneladas ao longo da produção de vida da planta, que é mais ou menos um ano”.

A exportação é a próxima aposta da empresa e, neste sentido, Yudo Borges esteve, recentemente, reunido com cadeias de supermercados da Namíbia que “se mostram muito interessadas”. Actualmente, a Namíbia depende, sobretudo, do morango importado da África do Sul que Borges considera não ser, muitas vezes, de boa qualidade.

OPERAÇÕES CAMBIAIS. Apesar da escassez de divisas, bancos conseguem resultados positivos com operações que envolvem a transacção de moeda externa.

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Os bancos comerciais têm conseguido contornar a crise de escassez de divisas e manter as operações cambiais entre as principais rubricas de negócio com registo, inclusive, de crescimento.

Fazendo recurso aos relatórios e contas de três das instituições bancárias do ‘Top 5’ (o BMA e o BPC não têm os relatórios disponíveis nas páginas de internet), referente ao exercício de 2016, o VE conclui que a rubrica ‘operações cambiais’ é a segunda maior em termos de volume de negócio no que ao Produto da Actividade Bancária diz respeito.

No BFA, por exemplo, apenas a margem financeira, com 67,2 mil milhões kwanzas, superou as operações cambiais que reclamaram 18,3% dos 96,6 mil milhões de kwanzas referentes aos resultados da ‘actividade bancária’. Em causa, está um crescimento de 10,6%, passando de 16 mil milhões para cerca de 17,7 mil milhões de kwanzas, apesar da quebra registada nos resultados provenientes do negócio da compra e venda de moeda estrangeira que passou de 9,2 mil milhões para 8,3 mil milhões de kwanzas.

A redução foi compensada pelo crescimento de cerca de 37% da ‘variação cambial em activos e passivos denominados em moeda estrangeira’ que passou de 6,8 mil milhões para 9,3 mil milhões de kwanzas. Com o referido crescimento, o BFA mantém a tendência de crescimento nos resultados das operações cambiais dos últimos anos depois de 12,8 e 13,7 mil milhões de kwanzas, registrados em 2013 e 2014, respectivamente. No BIC, as operações cambiais também são a segunda maior rubrica em termos de negócio no que à actividade bancária diz respeito. Superadas apenas pelos resultados dos juros (Juros de Títulos e Valores Mobiliárias com 42,1 mil milhões kwanzas e os Juros de Crédito com 37,6 mil milhões), as operações cambiais cifraram-se em cerca de 26,8 mil milhões de kwanzas, representando cerca de 30,2% do produto da actividade bancária.

Comparativamente ao período homólogo, a rubrica registou um crescimento de cerca de 2,6%, desde os 26,1 mil milhões de kwanzas. Mas, se comparadas aos dois anos anteriores, nota-se um crescimento considerável face aos 4,8 mil milhões de 2014 e aos 7,1 mil milhões de 2013. Destaca-se ainda uma alteração no contributo das operações cambiais nos resultados do ‘produto da actividade bancária’. Em 2014, por exemplo, representava 12% do resultado da actividade bancária e era o quarto produto em termos de valor, superado pelos resultados da ‘negociações e ajuste de valor justo’ e também pelos resultados das ‘prestações financeiras de serviços financeiros’.

No leque dos cinco maiores bancos com os relatórios disponíveis, o BAI é o único que registou quebra nos resultados das operações cambiais, no caso de 8,8%, passando de 19,5 para 17,8 mil milhões de kwanzas. A instituição justifica a quebra com “a redução do volume total de venda de moeda estrangeira em 12% em termos de USD e o aumento do ‘spread’ cambial médio”. No BAI interrompe-se, desta feita, a tendência crescente dos resultados das operações cambiais dos últimos anos, depois de um crescimento de cerca de 7% entre 2013 e 2014 (passando de 12,8 para 13,7 mil milhões de kwanzas) e ainda o crescimento de 42% entre 2014 e 2015. No entanto, tal como no BIC e no BFA, os resultados das operações cambiais é o segundo maior em termos de volume, representando cerca de 19% do ‘produto da actividade bancária’.Uma redução de cerca de sete pontos percentuais quando comparada com aos cerca de 27% que representava em 2015.

Quanto ao acesso às divisas, qualquer um dos três bancos registou quebra nas compras como resultado da redução do equivalente em dólares de seis mil milhões para 11.080 milhões nas vendas do BNA para os bancos comerciais. O BFA, por exemplo, comprou um total, equivalente em dólares, a 1,8 mil milhões, registando uma redução de cerca de 44% face aos 3,2 mil milhões de 2015. Do valor adquirido no mercado primário, o BFA registou uma redução de 48%, passando de 405 para o equivalente a 353 milhões de dólares.

Em recentes declarações ao VE, Hugo Teles, do BIC, adiantou um pormenor que pode explicar os resultados positivos das operações cambiais apesar da redução das divisas. Referiu que os bancos optaram em “aumentar as margens nas operações cambiais” para combater a falta de rentabilidade derivada de situações como o aumento da taxa Luibor que impossibilita o negócio do crédito ou mesmo a escassez de divisas que impossibilita mais rendimentos com as comissões. No entanto, na ocasião, o bancário apelou para a necessidade de os bancos não fazerem das operações cambiais o negócio nuclear.

COMÉRCIO. Petróleo representa cerca de 87% das trocas entre os dois países e 97% das vendas angolanas.

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As trocas comerciais entre Angola e a China, no primeiro semestre deste ano, recuperaram da quebra registada no período homólogo, quando recuaram cerca de 46% para 7,1 mil milhões de dólares, comparativamente aos 10,4 mil milhões do mesmo período de 2015.

Nos primeiros seis meses do ano em curso, as trocas comerciais cresceram cerca de 40,3%, passando dos 7,1 para 11,9 mil milhões de dólares. A manter a média mensal do semestre passado, as trocas comerciais do ano em curso superarão os cerca de 15,6 mil milhões de dólares de 2016.

Os cálculos são do VALOR com recurso aos dados das alfândegas chinesas que revelam ainda exportações angolanas no valor de 10,8 mil milhões de dólares, registando um aumento de cerca de 40,7%, face aos 6,4 mil milhões de dólares do primeiro semestre de 2016.

As vendas petrolíferas representam cerca de 96% das exportações angolanas para o país asiático e 87,3% das trocas entre os dois países. Totalizando 10,4 mil milhões de dólares, as vendas do petróleo registaram um crescimento de cerca de 61% face aos 6,4 mil milhões do mesmo período de 2016.

No período em análise, Angola foi o segundo maior fornecedor de petróleo à China, superando a Arábia Saudita, enquanto a Rússia foi o primeiro com cerca de 11,4 mil milhões. As vendas angolanas representaram cerca de 13% do petróleo comprado pela China.

Enquanto isso, a China vendeu para Angola, no primeiro semestre do ano, mercadorias acima dos dois mil milhões de dólares, o que representa um crescimento de cerca de 30%, quando comparado ao 693,7 milhões de dólares do período homólogo. Em 2015, registou-se o maior volume de vendas da China para Angola, com 2,1 mil milhões de dólares.

A balança comercial entre os dois países tem assim no petróleo o principal suporte, sendo favorável para Angola também pela exportação deste produto. No entanto, empresários chineses que operam no país acreditam tratar-se de um cenário que pode ser mais diversificado num futuro breve.É o caso de Chen Song, proprietário do Grupo Yewing e vice-presidente da Câmara de Comércio Angola China.

Para Chen Song, se forem ultrapassadas as barreiras que tornam o processo de exportação “ainda complexo”, rapidamente as exportações angolanas para a China “serão diversificadas porque Angola tem muito potencial”.

O empresário chinês revela que, em 2016, iniciou, por exemplo, a exportação de pequenas quantidades de produtos agrícolas, como frutas, madeira e café para a China, com receitas calculadas em cerca de 2 milhões de dólares.

A conversa com Hugo Teles, administrador do BIC e filho do presidente do mesmo banco, concentrou-se, sobretudo, na análise do sistema financeiro. Afirma que pelo menos quatro bancos angolanos estão em condições de trabalhar com qualquer banco interncional, incluindo com os norte-americanos. E diz que a venda de divisas deveria priorizar quem da crédito à economia.

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Que análise faz, enquanto quadro sénior do sector da banca, sobre a actual situação económica do país?

A situação económica não é a mais fácil. Se olharmos para o PIB angolano, veremos que cerca de 70% resulta da exploração petrolífera e a partir do momento em que o preço deste produto está baixo, a rentabilidade é mais reduzida. Por outro lado, há excesso na produção de petróleo e a produção, internamente, está relativamente reduzida. Claramente, a situação económica do país não seria a mais fácil, nem será nos próximos tempos, enquanto dependermos tanto do petróleo.

Nesse cenário, quais são os principais desafios para os administradores bancários, tendo em conta, sobretudo, a falta de divisas que é uma consequência?

Também não é fácil. Os bancos tiram ou deveriam tirar maior parte da sua rentabilidade, através da concessão de crédito e execução de operações de transferências, mas o que se vê é que a maioria dos bancos tira rendimento através das operações de cambiais. Esta não é a função primária do banco, não é das operações nucleares de um banco normal. Se tivermos em atenção que a Luibor passou de pouco acima de 9% para 24% e, sobre isto, os bancos ainda têm de pôr a sua margem, veremos que as taxas de crédito estarão entre 27% e 29%. Ninguém tem condições para pagar créditos nestes termos nem os bancos querem conceder, sabendo que as pessoas terão muitas dificuldades em pagar. Ou vão fazer créditos de valores muito reduzidos, mas mais para os particulares, porque as empresas simplesmente não vão fazer crédito, porque não vão ter rentabilidade para isso.

Como é que o Banco BIC tem feito a gestão das divisas a que tem acesso?

Decidimos ter sensibilidade a tudo o que é questão de saúde, mas devidamente comprovada (este foi o ano em que mais vi relatórios médicos). Também procuramos ajudar aqueles que têm menores rendimentos e têm os filhos a estudar fora, fazendo um esforço muito maior. Procuramos ajudar, pelo menos, a fazer o pagamento directo para as escolas no sentido de evitar atrasos, mas não é fácil. A pressão é muito grande por parte dos clientes e com razão, mas os bancos não têm como atender porque compram ao banco central cerca de um décimo ou um vigésimo do que necessitam. Não estamos a falar de uma pequena, mas de uma grande escassez. Sei que a vida de quem está no banco central ou no Ministério das Finanças também não está fácil. Temos todos de procurar fazer o melhor para conseguirmos gerir da melhor forma possível o pouco que há.

Quais são, em média mensal, as necessidades do BIC, em divisas?

Depende muito. Há três anos, o valor era quatro ou cinco vezes superior. Entretanto, as empresas dispensaram muitos colaboradores com destaque para os expatriados e as necessidades, todos os meses, reduzem. A nível de salários a expatriados, chegamos a ter uma média equivalente, entre 11 e 12 milhões de dólares por mês e, neste momento, há de estar próximo dos 4,5 milhões. Mas compramos ao banco central um milhão, no máximo, o que não dá para pagar a todos. Há muita gente com salários em atraso. Por outro lado, temos os nacionais que têm de ir menos vezes de férias e com menos valores.

Há informações de que, no ano passado, o BIC ficou excluído de algumas sessões dos leilões. Algum motivo em especial?

Não lhe posso precisar com certeza nem devo fazer. Posso dizer que, todos os meses, compramos menos do que devemos comprar. Para haver alguma justiça e trabalharmos de forma séria, um banco que se candidata aos leilões do banco central e que comprove que tem operações para o estrangeiro e que tenha os kwanzas depositados deve concorrer à compra destas divisas. Não me parece que faça muito sentido que os bancos que tenham poucos depósitos e poucas operações sejam beneficiados com divisas de que não necessitam.

Mas a ideia não será dividir o pouco para todos?

Parece-me mais uma forma administrativa de fazer crescer alguns bancos, mas não é o que se pede. Pode haver diversas razões, mas, para mim, o que faz sentido é que um banco que tenha as operações comprovadas e os valores depositados se candidata à compra das divisas. Nós passámos de um banco que comprava mais de 20% das divisas nos leilões para 11% e depois 9%. Poderá dizer-me que os outros bancos cresceram e pelo facto nós estamos a comprar menos. Mas é certo que, se eu passar a dar divisas a outros bancos mais pequenos (que até só têm agências em Luanda), os clientes vão para lá. Portanto, é uma maneira de lhes fazer crescer. Acho, no entanto, que ninguém deve crescer por favor, mas sim por trabalho. Nós temos mais de 330 balcões, estamos em 98 municípios, fazemos um esforço para atender a toda a gente pelo país e, sinceramente, acho que devemos ser tratados de uma forma ligeiramente diferente. Não queremos favor, mas que sejamos todos tratados de forma justa e correcta.

Não esclareceu. Ficaram sem comprar?

O que posso garantir é que, em mês nenhum, nós (e provavelmente, nenhum dos cinco maiores bancos) tenhamos conseguido comprar, ao banco central, um quinto (1/5) das nossas necessidades. Todos os meses os atrasados aumentam. Mas também devemos considerar a possibilidade de que algumas coisas eram mal feitas e agora passaram a ser bem-feitas.

Criticou o facto de os bancos fazerem das operações cambiais o seu negócio nuclear. É um problema generalizado?

Nunca fomos um banco que desse grande importância às operações cambiais. O que sabemos fazer é banca e banca é conceder crédito, proteger os depósitos dos clientes e fazer operações. As operações cambiais vêm mais lá para trás. Mas, actualmente, há muitos bancos que só fazem operações cambiais, vivem disso. Nós fazemos como qualquer outro banco e uma das maneiras para se combater toda esta falta de rentabilidade foi toda a gente aumentar as margens no que toca às operações cambiais. Entendo que alguns têm esta operação como principal por ser mais fácil de fazer, não precisam de conceder crédito, nem fazer transferência para ninguém, basta comprar e vender divisas com a margem fixa, é fácil de fazer, mas não é o nosso principal negócio, não somos uma casa de câmbio.

Mas é uma rubrica com destaque também nos relatórios do Banco BIC?

É mais uma rubrica que, no balanço dos bancos, gera rentabilidade, toda a gente sabe, é público. Eu também acho que seria muito mais fácil fecharmos os nossos balcões todos e fazer apenas câmbio, mas não é o nosso negócio, não é com este intuito que temos o Banco BIC aberto.

Qual foi o nível de redução de solicitação de crédito?

Diminuiu drasticamente o número de solicitações. No caso da diversificação da economia, felizmente, temos um programa brilhantemente criado, mas que, infelizmente, não está a ter a saída que deveria (pelo menos, nós, Banco BIC, achamos que deve ter), que é o Angola Investe. A taxa para quem vai investir é de 5% e a diferença para taxa Luibor é assumida pelo Estado. Temos ainda o Fundo de Garantia de Crédito, que também pode garantir até 70% do investimento. No entanto, o facto de haver essa entidade que assegura uma parte do financiamento não vai fazer com que analisemos os processos sem rigor. Pelo contrário, todos os projectos do Angola Investe que consideramos fiáveis estamos a apoiar. Em relação às solicitações, fora do abrigo do Angola Investe, houve uma quebra de quase 85% a nível de solicitações de créditos.

Actualmente, qual é o desembolso do Banco BIC no âmbito do Angola Investe?

De todos os projectos que analisamos, temos um desembolso que estará na ordem dos mais de 300 milhões de dólares. Temos mais cerca de 180 milhões aprovados, mas ainda não em fase de desembolso. Gostaríamos que fosse muito mais, porque há muito mais a ser feito a nível do Angola Investe. Contudo, é necessário que haja pessoas com ideias credíveis, experiência e com vontade de fazer. Não basta ter um estudo de viabilidade muito bonito. Nunca nos apresentaram um estudo que não fosse viável, mas, às vezes, até preferimos aqueles estudos à moda antiga, como as contas do merceeiro. Muitas vezes, preferimos que o cliente nos explique o projecto como se as pessoas do banco fossem todas crianças, porque assim conseguimos perceber que a pessoa tem uma ideia e sabe perfeitamente como a vai executar. Quando um empresário tem em mente, exactamente, o objectivo bem traçado é meio caminho andado para apoiarmos. No entanto, há pessoas com projectos bem-feitos, mas, nos encontros, mostram não ter nenhuma noção dos números do projecto. Não auguram nada de bom.

São muitos projectos nestas condições?

O que mais tem chegado são projectos que não convencem os bancos. Já nos apareceram projectos que, no primeiro plano, para um pequeno projecto agrícola, um dos custos que lá estava é o da compra de um Range Rover. Porque não uma ´pick-up´ que é o que é necessário? Logicamente, nós não avançamos para o financiamento, porque, para piorar, a equipa que estava a defender o projecto mostrou que o desconhecia por completo. Queremos apoiar, mas também queremos coisas a serem feitas. Neste aspecto, diria que somos ´chatos´, gostamos de ir lá ver e acompanhar o desenvolvimento do projecto, porque o banco acaba por ser um parceiro do empresário. Pessoalmente, acho que quem pensou no Angola Investe pensou bem e nós, bancos, temos de ter a responsabilidade e a firmeza para fazer com que, no futuro, se olhe para o Angola Investe como tendo sido um programa bem feito.

Nota-se alguma tendência do BIC em apoiar projectos agrícolas. Alguma razão especial?

Nós apoiamos todos os sectores, mas há mais investimentos na agricultura porque consideramos ser a chave. Ninguém vive sem comida e nós, infelizmente, importamos cerca de 95% do que comemos. Não faz sentido. Temos de ser auto-suficientes, senão passaremos o resto do tempo a depender dos outros. Somos um país muito grande, com mais de 25 milhões de habitantes, é muita gente para comer. À medida que a população cresce, se continuarmos a importar 95%, estaremos a falar de um valor muito maior porque este 95% é apenas uma taxa. Temos, urgentemente, de produzir comida porque o buraco está na comida. É o maior sorvedor de divisas que Angola tem, é onde gastamos mais divisas quando temos tanta terra boa que inveja a outros países.

Mas é um sector que foi sempre visto como ‘parente pobre’, era ignorado pelos bancos devido aos elevados riscos.

Não é que fosse um sector desprezado mas, como disse, tem um risco alto. Porquê? Porque a terra não tem, se calhar, a documentação que deveria, o que não permite, muitas vezes, usar a fazenda como garantia. Vou dar-lhe um exemplo do Brasil. Vá abrir uma fazenda, lá na última esquina do Mato Grosso do Sul, sabe qual é a primeira coisa que lhe vão dar? Energia eléctrica. É outra coisa que não podemos descurar. Andamos todos a produzir sem luz e gasta-se muito. Se o investidor puder dar a sua fazenda como garantia, certamente, lhe vão emprestar o dinheiro, porque isso tem um duplo sentido. O banco, quando vir que um indivíduo está a dar a sua própria terra, tem logo a percepção de que esta pessoa acredita no seu projecto. Os bancos todos deveriam apoiar mais a agricultura. Se há um banco que, ao longo dos anos, fala em agricultura, pecuária e pescas é o BIC. Se calhar, há bancos que têm, nos seus balanços, grandes créditos para estas áreas mas será que estes projectos estão feitos, existem? Se calhar não. Não estou a generalizar, mas, se calhar, nós apoiamos menos projectos mas muitos deles estão aí. Dou o exemplo da Agrolíder que está aí a produzir com força, numa zona em que lhes diziam que não era possível porque não havia água. Como este, há outros.

Regressando à temática das divisas. As actuais dificuldades não terão resultado também de alguma má gestão dos bancos comerciais?

Percebo perfeitamente o que quer dizer, mas também confio que as pessoas têm cabeça para pensar e apercebem-se das coisas tal como elas são. Não quero, de maneira nenhuma, estar a apontar dedos, nem é esta a minha função, mas também concordo que a gestão das divisas deveria ser feita de maneira diferente, de uma forma mais eficiente. No caso do BIC, posso garantir que não andamos a fazer operações esquisitas. O BIC não põe um dólar na rua, mas não posso falar pelos outros bancos. Procuramos gerir da melhor maneira, mas não fazemos milagres. Candidatamo-nos às compras no banco central e é-nos vendido aquilo que o banco central acha que devemos comprar. Actualmente, o banco central vende 95% das divisas via alocação directa. Ou seja, o banco central diz aos bancos comerciais que vai comprar X para esta empresa e Y para aquela, e depois temos de reportar todas as operações feitas por esta empresa e que o valor todo já foi gasto. Os bancos não têm autonomia para gerir divisas. Quando oiço que os bancos costumam gerir mal, pergunto-me: gerir mal o quê? Não temos para gerir. É-nos indicado para que empresas estamos a comprar (e de algumas destas empresas nunca ouvi falar). Não podemos usar estas divisas para vender a outras pessoas, não é possível.

Em anos anteriores, era possível cada um dos bancos saber quanto o outro comprou, mas actualmente parece não ser assim. Certo?

É uma informação que também deixou de existir não sei por que razão. Achamos normal ser público quanto é que cada banco está a comprar. Antigamente, vinha um mapa com os nomes dos bancos e o valor que compravam, actualmente vem o mesmo mapa, mas o valor apenas correspondente ao do banco destinatário. O espaço corresponde ao valor dos outros bancos vem em branco. Na minha opinião, era bem mais transparente e dava para toda a gente descortinar muito melhor como é que as coisas eram geridas.

Angola está a pagar por incumprimentos internacionais que levaram os Estados Unidos a cancelar o acesso do país ao dólar. Acha que se está a fazer o suficiente para, num futuro breve, se inverter o quadro?

Não vamos confundir. Alguns bancos angolanos, neste momento, cumprem cabalmente. Nós, nos últimos três anos, investimos 7,5 milhões de dólares em sistemas informáticos de controlo. Há, pelo menos, quatro bancos angolanos que cumprem praticamente as mesmas normas que qualquer banco na Europa; que têm todos os sistemas de controlo que tem qualquer banco na Europa. Mas, quando falamos da banca angolana, estamos a falar do banco central e dos bancos comerciais. Todos temos de cumprir as mesmas máximas e os mesmos pressupostos internacionais. Enquanto todos não cumprirmos, não fará sentido. Nós, por exemplo, achamos não fazer sentido fazer mais qualquer investimento, enquanto o supervisor não fizer o mesmo tipo de investimento.

E será boa ideia deixarem de investir pelos outros?

Nos últimos três anos, temos estado a participar de uma espécie de reunião mundial dos bancos que acontece anualmente. Participamos para tentar fazer o nosso ‘lobby’ no sentido de voltarmos a abrir as nossas contas em dólares e manter as contas em euros (porque também começa a ser equacionada o encerramento das mesmas) e o que nos dizem é: “Ok, vocês investiram muito bem, estão de parabéns mas a nossa decisão não vai mudar porque o vosso banco central não está a fazer o mesmo”. Só o facto de haver alocações directas de divisas faz com que o banco central não possa, de forma alguma, cumprir determinados pressupostos, porque o supervisor é o regulador. A função do banco central é regular e supervisionar, fazer com que as coisas se cumpram, mas a alocação directa de divisas é uma maneira de funcionar de um banco comercial. Este é um dos sistemas que tem de mudar. Julgo que o banco central tem perfeita noção disso, tem tido muitas consultorias e sabe perfeitamente o que é que temos todos de fazer para estarmos dentro daquilo que são os mínimos exigidos pelos meios financeiros internacionais. Temos todos de o fazer. Neste aspecto, nós, BIC, somos ‘fully compliant’, estamos em condições de trabalhar com qualquer banco em qualquer parte do mundo, inclusivamente americanos.

Ou seja, os bancos que, como o BIC, estão ‘alinhados’ estão a ser prejudicados pelos outros e pelo Banco Central?

Temos trinta bancos e todos têm de o fazer, porque a soma de todos é que dá o total e as normas internacionais não valem para um ou três, valem para todos e todos temos de ser obrigados a cumprir, inclusive o banco central. Ou seja, toda a banca tem de seguir os mesmos parâmetros, porque a banca de um país é avaliada como um todo. Chega uma altura que qualquer investimento que venhamos a fazer já é em vão, porque não irá produzir os resultados.

Mas continuarão a fazer o ‘lobby’ ou também desistirão?

Continuaremos, porque acreditamos que ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’. Continuaremos a investir neste encontro, temos mais de cem reuniões em uma semana, falamos com todo o tipo de bancos, ouvimos: “não, não e não” mas chegará o dia que ouviremos o “sim”. É uma maneira de estarmos presentes, darmo-nos a conhecer. Estamos lá também a representar Angola e acho que temos estado a representar bem.

Quais são os números da actividade do banco no primeiro semestre?

Há três anos, chegámos a ter, em depósitos quase oito mil milhões, o equivalente em dólares, e, neste momento, estamos em 4,8 mil milhões. Ou seja, quase que caímos para a metade. Não há actividade, não há transferências, as empresas todas estão a trabalhar menos e é natural. Por outro lado, vamos sofrendo com algumas transferências de alguns bancos para os outros, porque as pessoas andam a rondar para ver onde é que conseguem as transferências mais rápidas. Os bancos, no geral, quase que caíram para a metade nos depósitos. A nível de crédito, continuamos com mais de seis mil milhões, sendo que cerca de três mil milhões são de crédito ao Estado. Esta é outra das rubricas que, pessoalmente, penso que deveria ser mandatória na aquisição de divisas ao banco central. Um banco que não dá crédito a ninguém não deveria adquirir divisas, porque não está a exercer a sua função de banco. Porque é que eu vou dar divisas a um banco que não produz, não faz acontecer, não contribui para o crescimento do país? Nós somos um dos grandes financiadores da economia, isto não há como negar, basta olhar para a carteira de crédito de todos os outros bancos. A aquisição de divisas deveria estar equiparada ao rácio de crédito. Talvez obrigaria a que os bancos trabalhassem mais em prol do crescimento da economia e tivessem mais responsabilidades a conceder crédito e evitassem a que o crédito ficasse malparado.

Qual é a realidade no BIC?

Saiu dos 2% para cerca de 12%. Ou seja, tínhamos cerca de 70 milhões de dólares e agora estamos com quase 180 milhões de dólares e a tendência é de subir.

Caso a Recredit já estivesse a trabalhar com os bancos comerciais, o BIC estaria disponível a negociar?

Nós procuramos não dar mau crédito. Possivelmente, haveria uma ou outra operação que poderíamos discutir com eles, mas valores não muito grandes. Mas não tenho informação suficiente para falar sobre a Recredit, não sei como funcionará no futuro.

Quais são os mecanismos utilizados pelo banco para a recuperação do malparado?

A recuperação do malparado envolve muito trabalho, muita persistência, muita insistência. A par do compliance, a outra área do banco que, ultimamente, mais cresce é a de recuperação do mal parado. Fazemos sempre o possível de dar a possibilidade de as pessoas pagarem o seu crédito, dando oportunidade para reestruturar, aumentar prazos. O banco é flexível para falar com os devedores, tentar arranjar uma solução porque não queremos ficar com o património das pessoas, não queremos bater à porta do avalista. Queremos é que a pessoa pague o seu crédito na íntegra sem problemas e, se tiver com dificuldades, mais vale dizer para encontrarmos outros mecanismos, podemos adequar as prestações em função das capacidades do cliente. É verdade também que há uns que são mesmo ‘malandros’, mudam de província e de telefone e por isso é que os bancos tentam defender-se no momento da concessão porque depois de conceder as pessoas não querem saber mais do banco.

Olhando para o histórico de recuperação, qual é a percentagem de sucesso?

Tem vindo a melhorar cada vez mais, porque, logicamente, havendo mais malparado, investimos mais nas equipas de recuperação e há mais resultado deste trabalho. Tem havido, de facto, uma recuperação bastante intensa, senão invés de ser de 180 milhões estaríamos em cerca de 300 ou 400 milhões. Nestas negociações, tem de haver bom senso, não podemos ser anjinhos, mas também não podemos ser os diabos.

Recentemente veio a público o nome de dois clientes do banco que tinham dívidas. Como acontecem situações do género?

Achei esta notícia surreal, porque estas pessoas não são devedoras, são avalistas de créditos. Acho que foi alguém que quis, de alguma forma, prejudicar estas pessoas, mas são casos que estão em tribunal há anos. Para uma dessas pessoas, a sentença saiu um pouco antes da notícia e o outro tinha saído um ano antes da notícia, mas, se vir as sentenças do tribunal, há muitos clientes do BIC que foram a tribunal. Não é por serem figuras públicas, não temos nada contra ninguém e sempre fomos um banco que não gosta de prejudicar a imagem de ninguém.

Quando falou dos números referentes ao semestre, não fez referência aos lucros. Qual é a realidade?

A situação é igual para quase todos os bancos. O crescimento dos lucros dificilmente acontecerá. Talvez, conseguimos manter porque também encareceram alguns outros produtos, mas isso é tudo muito aparente porque, na verdade, o banco não tem crescimento e, em última instância, isto é que conta.

IMPÉRIO. Empresa despediu, nos últimos meses, centenas de colaboradores. E a venda da participação no projecto diamantifero de Catoca aumentou o sentimento de instabilidade no seio dos que continuam.

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O recente anúncio da venda da partcipação (16,4%) da Odebrecht no projecto diamantifero de Catoca aumentou o sentimento de instabilidade laboral no seio dos colaboradores da empresa devido à onda de despedimento que se regista nos últimos meses.

“Todos os meses são dispensados centenas de quadros nacionais e engenheiros, administradores e técnicos de base em todas as obras e também no escritório central em Talatona. As dispensas, este ano já somam mais de dois mil funcionários mandados para casa, 90% dos quais são nacionais” confidenciou-nos uma fonte dos recursos humanos da empresa.

Uma realidade que deixa para o passado o título de maior e um dos mais estaveis empregadores do país que durante anos ostentou. Chegou a ter cerca de 25 mil empregos entre directos e subcontratados. Em 2015, entretanto, já tinha registado, entretanto, uma diminuição para quase metade da força de trabalho para 14.817 funcionários, 10.835 dos quais directos e perto de quatro mil subcontratados.

A Odebrecht destacava-se ainda entre as empresas que apostavam na formação dos colaboradores, bem como que proporcionavam estágios e o primeiro emprego a recém-licenciados. Entretanto, grande parte destes jovens perdeu o emprego.

“Os jovens saídos das universidades pelos programas ‘Jovem Parceiro’, ‘Prémio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável’, ‘Estágio Alternativo’, etc, que participaram de formações internas e beberam da TEO (Tecnologia Empresarial Odebrecht), para poderem assumir cargos estratégicos, foram despedidos”, revela a fonte. Em razão dos despedimentos está a falta de obras, motivada não apenas pela diminuição de empreitadas no país devido à crise actual, mas também pela perda de poder por parte da empresa brasileira para conseguir novos contratos e, inclusive, em manter alguns em curso, no seguimento do escândalo da ‘Lava Jato’.

No mês passado, por exemplo, o Executivo rescindiu com a empresa um contrato avaliado em cerca de 143,3 milhões de dólares que consistia na execução da segunda fase da marginal entre a praia do Bispo e a Corimba, empreitada que passou para a chinesa o grupo China Railway 20 (CR20).

O VALOR apurou que a empresa também tem tido saldo negativo na tentativa de reaver contratos de limpeza e saneamento da cidade de Luanda, que também já foi uma das suas frentes.

Neste momento, o principal empregador do grupo é o Projecto Hidroeléctrico de Laúca que, entretanto, está em fase de desmobilização devido à conclusão do projecto. À luz do Despacho Presidencial n.º 179/17, publicado em Diário da República nº 114, esta força de trabalho, entretanto, poderá ser transfererida para outros projectos hidroeléctricos em cursos no país.

A Biocom é o outro grande projecto em que a empresa está envolvida, mas, segundo apurou o VE, “trabalha sem qualquer intervenção directa da Odebrecht por determinação dos accionistas nacionais (Cochan, S.A., e a Sonangol Holdings, Lda., com participações, respectivamente, 40% e 20%)”.

A situação da empresa contraria a crença manifestada pela direcção da Odebrecht Angola, depois da detenção, em Junho de 2015, do seu patrono, Marcelo Odebrecht, no âmbito da operação ‘Lava Jato’. O responsaveis da empresa no país acreditavam que a situação não afectaria o desempenho da empresa.

No seio dos trabalhadores, porém, é dominante o sentimento, de que este cenário de perda de fôlego é resultante das declarações de Marcelo Odebrech, na delação premiada em que expôs alegados esquemas de corrupção, envolvendo figuras angolanas.

Certo é que, após as declarações, a direcção da multinacional desdobrou-se em contactos no sentido de assegurar a continuidade no país, como escreveu, na ocasião, a imprensa brasileira.

“A preocupação do grupo é que, após essa divulgação, as autoridades em Angola possam colocar obstáculos e prejudicar os negócios da empresa”, escreveu, por exemplo, o Folha de São Paulo, na sequência da divulgação das declarações em Abril do ano em curso. Manter os negócios em Angola era fundamental, considerando o facto de a empresa estar a ser sansionada em grande parte dos países em que opera, sobretudo os latinos.

A Odebrecht actua há mais de 30 anos em Angola nos ramos da construção civil, energia, água, transporte, e habitação, além de investimentos no sector de mineração, varejo e agronegócio.

Alrosa e Endiama repartem participação

A Endiama (detentora de 32,8%), segundo o anúncio oficial, fica com os 16,4% que a Odebrecht detinha na Sociedade Mineira de Catoca, mas vozes do sector indicam que a parcela será repartida em partes iguais com os russos da Alrosa (32,8%).

A leitura é suportada pelo discurso do presidente da Alrosa, Sergey Ivanov, durante a assembleia-geral da empresa, realizada recentemente. Na ocasião, adiantou que a Alrosa pretende aumentar a sua participação até 41%, o que significa que tenciona comprar 8,2%, ou seja, metade da então participação da Odebrecht.

Já os chineses, da LLI, controlam 18% da sociedade que explora a quarta maior mina de diamantes a céu aberto do mundo. Em actividade deste 1997, Catoca é responsavel por cerca de 75% da produção diamantifera do país, estimada em cerca de nove milhões de quilates por ano.

Novo contrato, Novo fôlego

A 1 de Agosto, o Governo aprovou a assinatura de um novo contrato com a empresa, encarado no seio da direcção da Odebrecht Angola como exemplo de que a actual situação da empresa “resulta apenas da conjuntura económica do país e nada mais”. O comentário é de um membro da direcção que, entretanto, se recusou a comentar o assunto de forma oficial.

Em despacho com o n.º 214/17, o Presidente da República autoriza a celebração do contrato, avaliado em 993,4 milhões de dólares entre a Empresa de Produção de Electricidade –PRODEL e a Odebrecht para a operação e manutenção das Centrais Hidroeléctricas de Cambambe, Capanda, Laúca e a Modernização de Capanda.

Segundo o despacho, “a operação visa proporcionar maior segurança e estabilidade na produção e fornecimento de energia eléctrica, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento económico e social do país”.