Valor Económico

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INDÚSTRIA. Responsável do Consórcio Rede Camponesa defende que as fábricas que não usam matéria-prima nacional devem fechar. E argumenta que importadores tinham apenas ‘os olhos postos’ nos dólares.

GENTIL

As empresas dependentes da importação de matérias-primas que podem ser encontradas ou produzidas no país “devem fechar”, defende o empresário Gentil Viana, justificando que “assim será melhor para a valorização da produção nacional”.

Para o presidente do Consórcio Rede Camponesa (CRC), “quanto mais empresas ligadas à transformação dependentes da importação fecharem, há mais ganhos para o camponês e o país poupa divisas que podem ser direccionadas para sectores mais carenciados”.

Gentil Viana justifica-se com o argumento de que muitos dos proprietários, destas unidades de produção, sempre estiveram com os olhos mais fixados nos dólares para a importação uma vez que essa prática “rende comissão e concorre para o rápido enriquecimento sem esforço”.

“A era de ‘mamar nas tetas’ do BNA por onde ‘jorravam’ dólares acabou”, comenta o empresário, acrescentando que, “se se quiser erguer um país competitivo, deve apostar-se seriamente no sector primário da economia”.

Com a defesa da falência das empresas, o empresário coloca-se em posição contrária à do outro Viana (Francisco Viana), presidente da Confederação Empresarial de Angola (CEA). Em Abril, Francisco Viana lamentava, ao VALOR, estar descontente com a posição de um membro da equipa económica do Governo que, em reunião com os empresários, terá afirmado que as empresas angolanas “podem morrer à vontade porque não prestam” e assim ficariam “apenas as boas”.

Na altura, Francisco Viana não avançou o nome do governante, prometendo que o faria, caso o mesmo não se retratasse, o que nunca aconteceu.

“A ideia que fica é a de que parece que não há sentimento nem coração em determinados dirigentes. E já estamos a preparar um protesto porque não podemos ter dirigentes assim”, desabafava, na altura.

… E defende microempresas

Por outro lado, Gentil Viana manifesta-se pouco confiante nos dados que indicam a falência de muitas micro e pequenas empresas, sobretudo do sector agrícola.

“É um ‘truque’ dizer que as ‘empresas estão a fechar’, pois, o que querem é ‘pôr a mão’ nas divisas do BNA e importar em detrimento da produção interna.”

Como prova, o empresário cita as quantidades significativas de produtos que se estragam na “mão dos camponeses” por dificuldades de escoamento como tomate, abacaxi e laranja.

“Angola conta já com uma significativa produção de abacaxi e de banana. A laranja apodrece nos pomares do Zaire e Uíge, mas os fabricantes angolanos de sumos preferem importar polpa do Brasil e de outros países. Isso não credibiliza e deixa os camponeses ainda mais pobres e desmotivados, desacreditando, por conseguinte, o país”, argumenta.

Este raciocínio é contrariado pelas fabricantes de sumo que defendem não existir capacidade produtiva no mercado para atender às necessidades industriais.

CIBERSEGURANÇA. Criação de contas com perfil dentro desta idade já era proibida, mas rede social actualizou as orientações para a sua equipa de revisores.

Facebook

O Facebook vai suspender as contas de usuários com menos de 13 anos de idade. A criação do perfil já era proibida pela rede social, mas a empresa actualizou as orientações “para revisores para que suspendam qualquer conta que eles encontrem que tenham forte indício de ser de alguém de menos de 13 anos, mesmo que a denúncia da comunidade seja por outra razão que não a idade da pessoa”.

Monika Bickert, vice-presidente global de Políticas de Conteúdo do Facebook, foi a responsável pelo comunicado, que foi feito após uma reportagem do canal de televisão britânico Channel 4, que levantou questões sobre a política de privacidade.

“Nós não permitimos que pessoas com menos de 13 anos tenham uma conta no Facebook. Se alguém denunciar uma pessoa por ter menos de 13 anos, o revisor analisará o conteúdo do perfil (texto e fotos) para tentar descobrir a sua idade.

Se o revisor acreditar que a pessoa tem menos de 13 anos, a conta será suspensa e a pessoa não conseguirá usar o Facebook até que forneça provas da sua idade”, completou Monika num texto intitulado “Trabalhamos para manter o Facebook um lugar seguro”.

O texto fala de “políticas claras sobre o que é permitido no Facebook e processos estabelecidos para aplicar as regras”.

O comunicado também informa que a empresa aumentou a equipa para revisar denúncias de conteúdos na rede social.

“Estamos a dobrar o número de pessoas a trabalhar nas nossas equipas de segurança e protecção neste ano para 20 mil. Isso inclui mais de 7.500 revisores de conteúdo”, explica. A vice-presidente global da empresa ainda destaca a dificuldade de se fazer esse trabalho.

“Mais de 1,4 mil milhões de pessoas usam o Facebook todos os dias ao redor do mundo. Elas publicam em dezenas de idiomas diferentes: tudo, desde fotos e actualizações de status até vídeos ao vivo. Decidir o que permanece e o que é removido envolve uma análise difícil sobre questões complexas – que vão desde ‘bullying’ e discurso de ódio a terrorismo e crimes de guerra”.

“Realizamos três grandes eventos na Europa em Maio, onde pudemos ouvir as ideias de defensores dos direitos humanos e da liberdade de expressão, além de especialistas em contra-terrorismo e segurança infantil”, finaliza.

COBRANÇA DE IMPOSTO. Objectivo é consciencializar produtores e importadores de que devem optar por produtos biodegradáveis. Diploma não vai afectar quem importar produtos ‘amigos do ambiente’.

Ambiente 120

O Governo está a preparar legislação para cobrar ecotaxas aos produtores e importadores de matérias não degradáveis, que variam entre os 0,25% aos 0,90% sobre o valor de produção/importação de plásticos, pneus, baterias e pilhas.

A proposta foi apresentada na passada semana pelo grupo técnico de apoio à sua aplicação e instituição, liderado pelo Ministério do Ambiente, para a recolha de contribuições da sociedade civil e empresários, para melhorar o documento, embora a legislação deva só vigorar em 2019.

Em declarações à imprensa, o secretário de Estado para o Ambiente, Joaquim Manuel, referiu que a cobrança de ecotaxas visa a reorganização dos resíduos sólidos em Angola e o direccionamento do que ainda se produz no país.

Segundo Joaquim Manuel, as ecotaxas pretendem orientar os produtores para enveredarem por “produção amiga do ambiente”, bem como para a importação de produtos de fácil gestão após a sua utilização.

“O que acontece hoje é que as pessoas importam tudo quanto é mais barato para o nosso país e vemos que esses produtos importados trazem um grande problema no seu descarte. Temos grandes quantidades, toneladas e toneladas de resíduos ligados aos plásticos e aos metais, porque ainda continuamos a importar produtos com embalagens não recicláveis”, disse Joaquim Manuel.

A proposta prevê a cobrança de taxas de 0,25% sobre o valor de produção ou importação de embalagens plásticas, 0,70% para pilhas, 0,80% para pneus, 0,70% para eléctricos e electrónicos, 0,50% para óleos e 0,90% para veículos.

“O objectivo das ecotaxas é passar uma mensagem aos produtores e importadores que devem enveredar para os produtos biodegradáveis. Quem puder fazer a importação de produtos biodegradáveis não fica afectado por esse diploma, mas quem continuar a fazer importação de produtos não amigos do ambiente continuará sim a pagar”, reiterou.

O governante frisou que a utilização de sacos plásticos é já proibida em alguns países da região austral, caminho que Angola pretende igualmente seguir.

“Em Luanda, os plásticos hoje vão todos para o aterro sanitário. Nas outras províncias que não têm aterros sanitários vão directamente para as lixeiras, que é um dos maiores problemas que temos a nível da saúde pública, a gestão dos sacos plásticos, porque eles são não degradáveis e demoram quase 500 anos a fazer essa decomposição”, salientou.

Joaquim Manuel sublinhou que a proliferação de sacos plásticos concorre para o problema do saneamento básico que o país enfrenta ainda hoje. “Acumulam água, acumulam bactérias, aumentam a temperatura e podem trazer problemas de saúde pública.

Hoje vemos em valas de drenagem e em becos na área da periferia vários sacos e, quando chove, acumulam água que pode trazer depois a criação de vectores ligados à malária e outras doenças que hoje no nosso país são um grande problema”, disse. Durante este ano, o Governo vai recolher contribuições em todo o país, prevendo para 2019 a entrega final do documento para a aprovação.

DIPLOMACIA. Países emergentes querem apostar em África, numa altura ?em que se prevê que o continente tenha mais de 2,5 mil milhões de consumidores em 2050. Vladimir Putin fala em “negócios vibrantes”.

BRICS

O grupo BRICS, que junta as potências emergentes, almeja estreitar a cooperação com África em ?áreas como comércio e desenvolvimento de infra-estruturas. Esse desejo foi expresso durante a 10.ª cimeira que encerrou na passada sexta-feira, em Joanesburgo (África do Sul).

Na presença de mais de 15 líderes africanos no Centro de Conferências de Sandton (distrito financeiro da cidade sul-africana) entre os quais os de Angola, Zimbábue, Ruanda e Uganda, o presidente do país anfitrião, Cyril Ramaphosa, afirmou que “o fórum procura construir uma parceria inclusiva entre as lideranças dos BRICS e os líderes escolhidos das instituições africanas”.

Na mesma linha de Ramaphosa esteve o presidente da China, a liderar a segunda maior potência económica do mundo e o maior parceiro comercial do ‘continente negro’. Xi Jiping defendeu uma “expansão do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)a outros países emergentes e em desenvolvimento”.

O presidente chinês, que antes de participar na cimeira passou pelo Senegal e Ruanda para rubricar acordos de cooperação, acrescentou que se “deve expandir a cooperação com o continente africano”.

O chefe de Estado brasileiro, Michel Temer, que não assistiu ao último dia do encontro, tendo sido substituído pelo ministro das Relações Exteriores, defendeu igualmente, antes de deixar Joanesburgo, que o BRICS “pode e deve ser aliado do desenvolvimento da África”, acrescentando ainda que “queremos que a agenda do BRICS para a África seja tão intensa como intenso é o vínculo histórico e afectivo do Brasil com este continente”.

Temer indicou que a parceria do BRICS pode ser financeira e enumerou vários projectos no campo de infra-estruturas e saúde. Uma cooperação que julga “necessária não só no campo económico, mas que também deve ser alargada nos domínios da paz e segurança”.

“LUGAR PARA NEGÓCIOS VIBRANTES’

Para o presidente russo Vladimir Putin, “África é um dos lugares para fazer negócios mais vibrantes do mundo”, justificando que “vê um grande potencial e várias oportunidades”, uma vez que “os prognósticos indicam que o continente africano terá mais de 2,5 mil milhões de pessoas antes de 2050”.

“A Rússia está interessada em aumentar a cooperação com África”, concluiu Putin, definindo com preferências os negócios na agricultura e saúde.

O estreitamento de relações com África também foi defendido pelo primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, para quem as relações do seu país com o continente são “históricas e profundas”, e assentam em grande medida na formação de quadros já que “todos os anos mais de oito mil africanos obtêm bolsas de estudo”, naquela nação do Índico.

Entre os discursos dos líderes africanos, destacou-se o do presidente do Ruanda, Paul Kagame, líder da União Africana (UA), defendendo “uma convergência de interesses entre África e o BRICS”. A África do Sul, como presidente do bloco e anfitriã da cúpula, quis dar destaque ao continente ao escolher como lema: “Os BRICS em África: Parceria para um crescimento inclusivo e uma prosperidade compartilhada na quarta revolução industrial”.

PESO NA ECONOMIA GLOBAL

Embora muitos analistas perguntem porque é que a Nigéria ou o Egipto, que são as maiores economias africanas, não fazem parte do BRICS, Jakkie Cilliers, chefe do Programa Africano de Inovação do Instituto de Estudos de Segurança, na África do Sul, explica que “nem tudo é uma questão económica”.

“Países como a Nigéria, com uma economia maior do que a África do Sul, têm uma política externa incoerente e muitos desafios internos. Isso leva o BRICS a pensar que provavelmente a Nigéria tenha pouco a acrescentar ao grupo”, diz.

Analistas não esperam grandes avanços no grupo formado pelas economias emergentes. No início da década, aqueles países juntaram-se com um objectivo em mente: protegerem-se contra potencial espionagem da Europa e dos EUA.

Dos projectos ambiciosos iniciais, do papel saiu apenas o Novo Banco de Desenvolvimento, uma instituição financeira com sede em Shangai, que pretende ser a alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Apesar de muitos países e instituições considerarem o BRICS um projecto obsoleto, Jakkie Cilliers acredita que este grupo manterá um papel activo. “O BRICS continua a ser importante no cenário global do G20, porque é um contrapeso para o grupo do G7”, prevê.

Em 2017, a participação destes países na economia global foi de 23,6% e em 2022 estima-se que essa quota aumente para 26,8%, segundo o FMI. Mas em termos populacionais, os números são mais robustos: em 2015 o BRICS representava 41% do total da população mundial.

CARREIRA. Entrou na Fiat, em 2003, tendo um ano depois sido indicado como CEO da empresa. Após dois anos no cargo, conseguiu transformar o prejuízo de seis mil milhões de euros em lucro. Este feito foi suficiente para que Sergio Marchionne se mantivesse no cargo nos últimos 14 anos, percurso interrompido pela morte, ocorrida na passada quarta-feira.

Gestao 120

O dia 25 de Julho deste ano fica marcado na história do mundo automóvel. Morreu, aos 66 anos, o ítalo-canadiano Sergio Marchionne, que dirigiu, durante anos, o grupo Fiat Chrysler. Marchionne, que tinha cedido dias antes a liderança da Fiat Chrysler e da Ferrari a três sucessores, foi homenageado pela Câmara dos Deputados de Roma com um minuto de silêncio.

Nas últimas semanas, a Fiat Chrysler já vinha anunciando que o estado de saúde de Sergio Marchionne era preocupante, tendo piorado no antepassado sábado na sequência de “complicações inesperadas após uma operação”.

A morte do gestor, na passada quarta-feira, atrapalhou todo um plano do grupo, sendo que estava previsto que Marchionne deixasse o cargo ao longo de 2019 e na Ferrari em 2021.

Conhecido como o executivo que não tinha medo de tomar decisões difíceis, a era Marchionne começou em 2004, quando o executivo foi indicado como CEO da Fiat, que estava à beira da falência, poucos dias depois da morte de Umberto Agnelli, o filho mais novo da família proprietária da marca.“A Fiat irá conseguir, o conceito de equipa é a base sobre a qual criarei a nova organização. Prometo que irei trabalhar duro, sem polémicas e interesses políticos”, declarava Marchionne logo depois de ter tomado posse como CEO.

As capacidades de negociação do gestor ítalo-canadiano deram nas vistas aquando da ruptura da aliança com a General Motors (GM). O que aconteceu, a seguir, é classificado pela imprensa especializada “como uma obra de arte”.

Terá sido nessa altura que Sergio Marchionne convenceu os Agnelli a abrir mão da opção de venda à GM, que chegou a desembolsar 1,55 mil milhões de euros, montante de que a Fiat precisava muito, na altura, pela prioridade de compra.

“Quando se levanta, a conduta é muito importante. É preciso levantar da mesa fazendo valer um ponto de vista. Mas também é preciso deixar a entender que, no fim, acabará por abrir mão de algumas coisas”, explicou o gestor durante a apresentação da sua estratégia de negócios. Pouco tempo depois, as ideias de Sergio Marchionne começaram a dar resultados.

Em 2005, conseguiu lançar o Grande Punto, modelo que marcou a terceira geração da série. Neste mesmo ano, o grupo registou, pela primeira vez após cinco anos, lucro. Mas, para Marchionne, isso não era suficiente: “Não podemos nunca dizer: ‘As coisas vão bem’. Apenas: ‘As coisas não vão mal’. Devemos ser paranóicos. O percurso é dificílimo. Somos sobreviventes e a honra dos sobreviventes é sobreviver”.

Com a crise de 2008, e com o mercado automóvel em baixa, Marchionne aproveitou para aumentar a posição do grupo. Em 2009, adquiriu 20% do capital da Chrysler (falida um ano antes), quota que subiu para 53,5% em 2011 e 100% em 2014.

Tudo isso, devido a uma série de acordos rubricados directamente com os sindicatos dos trabalhadores e com o governo norte-americano.

“Com toda a sinceridade, não consigo ver meu futuro depois da Fiat. Não é a primeira empresa que reestruturei, mas é, sem dúvida, a que acredito que me permite exercitar todas as minhas capacidades. Temo não ter dentro de mim a energia para um outro ciclo dessa intensidade”, afirmava o gestor, citado pela imprensa italiana.

Nascido na Itália, Sergio Marchionne emigrou com a família para o Canadá aos 13 anos, onde estudou filosofia, economia e direito. Fez carreira como auditor e executivo de finanças. Substituí-lo no comando da Fiat não deverá ser tarefa fácil.

Aliás, terá sido por isso que, para exercer a tarefa que desempenhava, foram nomeados quatro gestores. Mike Manley, que coordenava a Jeep, uma das mais promissoras marcas da empresa, vai ser o novo CEO da Fiat Chrysler. Louis Camilleri, presidente do conselho de administração da Philip Morris, será o novo presidente da Ferrari. Suzanne Haywood, então directora da holding EXOR, da família Agnelli, assumirá a CNH. Enquanto isso, John Elkann, herdeiro da família, vai substituir Marchionne noutros cargos, como presidente do conselho de administração da Ferrari.