TROCAS COMERCIAIS. Anunciada saída do Reino Unido do bloco europeu terá várias implicações para o resto do mundo, mas um responsável britânico assegura que estão salvaguardadas as ligações com a região austral de África.
O secretário para o Comércio Internacional do Reino Unido, Liam Fox, disse, na passada sexta-feira, 22, esperar que a saída da União Europeia (EU) não afecte as relações comerciais com os países da África Austral. “Esperamos que não haja impacto nenhum”, referiu, citado pela Lusa, no final de uma visita a Moçambique, no âmbito de uma deslocação que incluiu também a África do Sul.
Liam Fox reuniu-se com o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e com o ministro do Comércio, Max Tonela, com vista à revisão dos acordos comerciais entre os dois países devido ao ´Brexit’. Segundo referiu, há, primeiro, um trabalho técnico a realizar para rever os textos dos acordos, por exemplo, substituindo as referências à UE, e num segundo momento haverá negociações com os países parceiros para tentar alcançar novos acordos.
“Agora é só uma questão técnica, para garantir legalmente a continuidade do comércio”, detalhou, numa declaração a jornalistas em Maputo.
“No momento de saída vamos continuar com as mesmas preferências. Depois podemos até querer fazer mais do que fazemos hoje, mas isso é outro momento de negociação”, referiu.
A indústria açucareira de Moçambique anunciou, na última semana, recear que, depois do ‘Brexit’, o Reino Unido, seu principal cliente, renegoceie a compra de açúcar com outros parceiros, incluindo a própria Europa.
Liam Fox disse que não haverá mudanças, mas admitiu que o Reino Unido possa querer encorajar o investimento para acrescentar valor à matéria-prima antes que deixe Moçambique, algo que, segundo referiu, é mais taxado pela UE, que prefere mercadorias no estado puro.
“Queremos encorajar investimento para acrescentar valor” antes que a matéria-prima “deixe Moçambique”, o que acarreta também uma maior qualificação da mão-de-obra moçambicana, referiu. Sobre as conversações de paz em curso entre o governo moçambicano e a Renamo, maior partido da oposição, o político britânico chama a atenção para a necessidade de só haver paz com distribuição de riqueza pela população.
“Sabemos pela experiência da Irlanda do Norte que não basta ter as políticas e segurança alinhadas. Também é preciso que haja prosperidade, o que, no caso, se conseguiu, captando investimento”, referiu.
“O meu encontro com o Presidente da República [moçambicano] foi longo e ele entendeu claramente que os desenvolvimentos políticos, de segurança e da economia estão todos interligados e não nos podemos focar num sem os outros”, disse.
“O que acontece no espaço político tem mais a ver com os partidos, mas nós podemos ajudar na área económica”, sublinhou.
Fox expressou interesse em ter mais empresas do país a investir em Moçambique, realçando a capacidade das autoridades britânicas em apoiarem projetos externos, nomeadamente se entidades do país tiverem um envolvimento mínimo de 20%.
Para que Moçambique atraia investidores, o governante considerou importante haver estabilidade macroeconómica, regulação e garantias legais. Entretanto, as negociações entre o Reino Unido e Bruxelas estão num impasse desde há alguns meses, devido à cláusula que prevê o pagamento, pelos britânicos, de uma taxa pelo “divórcio”. O governo de TheresaMay pretende desembolsar 20 mil milhões de euros, mas o governo europeu exige, no mínimo, o dobro desse valor.
O diário britânico Financial Times escreveu recentemente que a primeira-ministra se iria comprometer a pagar a totalidade das contribuições britânicas para o actual orçamento da EU (em vigor até 2020), ou seja, 20 mil milhões de euros.
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